O sinistro
Em plena A25 ocorre a tragédia: rebenta um dos pneus do atrelado, obrigando a uma paragem imediata. Logo se constata a impossiblidade de prosseguir. Tomado de uma imensa aflição, o proprietário do reboque multiplica os pedidos de perdão, suplica a compreensão dos demais. O condutor do jipe, analisando a situação, não perde a sua lendária fleuma. Talvez se note apenas alguma contrariedade na forma como rilha o charuto. E agora?
Há ainda uma terceira e bondosa personagem a registar o acontecimento, depois de sossegar as senhoras que viajavam na viatura acidentada. Não foi além de uma "porra" baixinho, inaudível como as demais exclamações, irrepetíveis, todas ditas só para si, em pensamento. É ele também quem solicita assistência através do orelhão SOS nas proximidades.
E substituido o pneu (com a ferramenta disponibilizada pelo funcionário da concessionária, entretanto presente), é decidido tomar o rumo de Águeda, onde o reboque poderia ficar em casa de um parente, uma vez que o outro pneu ameaçava explodir também, a qualquer momento. (Fugaz olhar de severidade por parte do condutor...). E tudo com grande desgosto das senhoras, duas das quais, aliás, se encontravam em estado interessante e assinalavelmente fatigadas.
O percurso até às terras do aludido parente de Águeda foi, por isso, percorrido com as maiores cautelas e vagares. Valeram as belezas da paisagem para amenizar a impaciência dos circunstantes.
E por fim o regresso ao Porto, com o passageiro do banco de trás partilhando o mesmo, sempre bondosamente, generosamente - cavalheirescamente - com as senhoras até aí ocupantes do atrelado.
Tudo terminou, então, sem males de maior.