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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

A História escrita pelos vencidos? Não, nunca.

João-Afonso Machado, 18.07.11

O que vem sucendendo em Espanha não passa despercebido nem aos mais distraídos. É demasiadamente claro o propósito de reescrever a História no capítulo referente à Guerra Civil. Como se o País ainda agora fosse povoado por valas comuns onde jazem somente os restos mortais de heróicos republicanos, os mártires da ditadura franquista.

Vale dizer, como se tão sanguinário conflito não consubstanciasse farta selvajaria de um lado e do outro beligerantes.

E como - sobretudo - não fosse uma realidade a extrema impopularidade da 2ª República espanhola: o seu alheamento face aos sentimentos, à cultura e às necessidades da sociedade civil; a repressão implacável dos anarquistas; o costumeiro anti-clericalismo das governações onde pontifica a Maçonaria. Tal qual o Portugal de Afonso Costa.

Sem dúvida, o pouco expressivo triunfo eleitoral da Frente Popular, em 1936, internacionalizou o conflito. Quer a Itália, quer a Alemanha (só para citar os mais explícitos...) não viram com bons olhos um governo leninista-trotskista aqui no fim da Europa. Um Governo, de resto, abertamente apoiado por Moscovo...

A Guerra Civil espanhola foi o que foi. Seguramente, não foi só o que dela querem os vencedores tenha sido. Os vencedores, entenda-se, os políticos e os historiadores cuja voz calou as restantes, na sequência da vitória aliada em 1945. As perseguições religiosas existiram, a ferocidade dos republicanos sobre os seus adversários não foi apenas um conto da carochinha. Nem as vítimas dessa catástrofe se inscrevem todas no lado nela perdedor.

Está bem à vista o objectivo visado com a manutenção da chama anti-franquista sempre incandescente. Nada mais do que o derrube da Monarquia, assim o Rei Juan Carlos passe o testemunho.

 

Folclore no Minho

João-Afonso Machado, 18.07.11

Ontem foi tarde de folclore lá na terra - S. Tiago da Cruz, V. N. de Famalicão. Como todos os anos, com o Festival que o seu Grupo organiza, com os demais ranchos convidados. Desta feita oriundos de Lisboa (o Besclore, constituido por pessoal do BES; perguntei-lhes se eram minhotos - alguns sim, os outros gostavam de ser...), de Ílhavo, gente do mar, cantares diferentes, de Paranhos, Porto, e de Lanheses, Viana do Castelo.

Sob os escombros de uma provincia com alma, paisagem e cores rurais, consola ver estes afloramentos, estas relíquias, resistindo sempre. Por ali fui vagueando, precisando as expressões de antigamente, mais cavadas, mais diluídas entre tantos novos que não cessam de chegar... E era um que este ano já nem renovou a licença de caça, sucumbido ao peso dos anos; e o outro, tolhido pela doença, a amparar-se na bengala; o Sr. Abade, sempre presente, sempre empenhado; o panado no pão, um copito de verde branco fresquinho, o Eduardo, uma vida de trabalho na Quinta, uns tantos dedos de conversa...

Até os grupos começarem a subir ao palco e a alegria tomar conta do terreiro. Povoando-o de ritmo, de trajes garridos, de vozes sonoras, desafiantes, de Minho genuinamente minhoto. As concertinas, os cavaquinhos, as castanholas...

E de tantas caras bonitas! Rápidamente localizei a rainha, por sinal moça da casa. Mas não foi necessário dizer-lhe: ela sabia-o. E sabia que eu também sabia...

 

Linha do Norte

João-Afonso Machado, 18.07.11

...

Não tarda, contudo, liquidam-se os dias de marcha campestre e, depois da gozosa imaginação do que fora a história de alguns fantasmas arquitectónicos, ainda pairando junto à linha, tornamos ao desarranjo produzido por nós próprios. Aldeias, vilas, cidades, encavalitadas umas nas outras, o comboio não logra apresentar algo mais tocante do que uma enorme buganvília, são umas tantas léguas marcadas somente pelo seu colorido, um jardim, uma gota de água nesse oceano seco e acimentado.

A lavoura ainda regressará, sempre em intervalos fugazes, e as aves de rapina povoarão os céus. Antes de uma nova vaga – imensa – de subúrbios, sobrará algum tempo para os terrenos alagadiços nas vésperas de mais um rio de tomo, portentoso rio todo ele nosso. Junto de si a frescura e o murmúrio dos choupos, a catedral dos estudos e do saber, muito ao longe, uma paragem incontornável com a cidade constrangendo a estação. Há muitas mochilas, vozes de juventude a subir as carruagens. Daí para a frente é como se o território fosse outro, novamente interessante mas muito mais apressado.