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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Meio forcado, meio Zé do Telhado...

João-Afonso Machado, 14.07.11

A carte é absolutamente verídica e o seu subscritor está devidamente identificado, inclusive pelos seus telefones. Trata-se de um insolvente que escreve à Cofidis nestes termos (respeitando a grafia original):

« Meus caros Senhores:

Parabéns por terem cedido a minha dívida a URANIA Finance, SA:

Mais uma firma que leva a "boca".

Ponham-se na bicha, depois de Santander-Totta, B. Comercial Português, BPN Crédito, Barclays, Credibom e Sofinloc, podem esperar sentados. Qual é a parte que não perceberam, que este crédito não é para pagar?

Renegociar? devem estar doidos.

Como é que vou pagar algo que já não me lembro?

Aliás não tenho dinheiro, o meu carro um Renault Clio de 90 (... matrícula) tem reserva de propriedade e já não é pago há 3 anos.

Não trabalho oficialmente, só em firmas de trabalho temporário, como a Randstar e como taxista.

Não tenho morada fixa, agora moro na Rua .... em Lisboa mas se lá forem a senhora dirá que não me conhece.

Até arranjei um cartão do H. Miguel Bombarda, onde me trato em psiquiatria, sou maluco, como vêm não têm por onde me agarrar.

Não roubei nada vocês é que me ofereceram dinheiro».

 

Perdulários, temerários... Deslumbrados, imprudentes... E, sobretudo, ingénuos. Absolutamente permeáveis a ofertas de eldorados, como se ainda houvesse alguém a dar o que seja a outrém. O resultado é este. Depois do choque com a realidade, as ondas sísmicas da revolta. E o inimitável improviso português. Num instante, o devedor se colocou na atitude de quem censura e rabeja o credor.

Rabeja? Não, melhor será dizer que o provoca. Como se estivesse a citá-lo. E a rir da sua cara, ao mesmo tempo. Com o seu quê de Zé do Telhado.

 

Entre ontem e amanhã

João-Afonso Machado, 14.07.11

Não há quem ponha a mão no Presente, tal a sua inconsistência. É demasiadamente transitório para que não permaneça sempre a dúvida se não existirão apenas o Passado e o Futuro. Ou a solidez das pedras e a vontade da sua preservação, com quanto na vida haja de certeza e de imprevisibilidade.

Por isso, - ancorados na experiência do Passado - vamos espreitando o Futuro. Esse amanhã constantemente transformado em ontem. O Tempo, afinal, e a sua infinita finitude. Ou o intervalo que nos é concedido para transmitirmos aos sequentes quanto aprendemos com os precedentes.

Por exemplo, a fundamental destrinça entre a prudência e o medo. Evite-se o coice; mas não se deixe de cavalgar a montada. Assim sempre foi, assim (espera-se) sempre será. Além do Passado, também o Futuro pertence à História.

Com fé o digo e observo a vida. Porque sem fé... é o Tempo perdido. A ausência de tudo, o triunfo do nada. Uma encruzilhada que também se pode chamar Portugal.