Momento decisivo
Entrei no Clube mudo, nervosíssimo. Os atrasados do costume pareciam eternizar a sua demora, não havia meio de começarmos. E, em tal tensão de espírito, o desastre poderia atingir proporções catastróficas. Guardei silêncio para evitar o pânico.
A pranchada começou, por fim, com cinco participantes. Chegada a minha vez de atirar, respirei fundo, agarrei-me à espingarda, sacudi os ombros. Era agora! O primeiro tiro do resto da minha vida.
Porque, calara-o até então, envergava a estrear o colete de um grande atirador, um caçador de nomeada. Levado pela idade e pela doença, esse foi para mim o seu legado. O colete! Falhar, naquele momento, seria não estar à altura. Desonrá-lo.
O prato saiu baixinho, laranja vivo, com o sol da cor dele. O primeiro disparo deixou-o ir, o segundo escaqueirou-o. E os pratos seguintes, então, quase todos eles, foram sempre a aviar. Neste meu abraço de saudade ao estimado parente e querido Amigo António de Souza-Cardoso, de Eiriz, Baião.