O Lago do Barbadão
«(...) Ao fundo do jardim, depois de uma escadaria e nos prenúncios da mata, está o "lago", um vastíssimo tanque com mais de cinquenta metros de comprido (...). Pode, em ponto certo, cobrir um homem de estatura avantajada e não está resguardado. Ou melhor: tem por barreira precisamente o Barbadão, que é sabido não perdoar às criancinhas que dali se acercam desacompanhadas de adultos, arrastando-as para as profundezas. E para que não restem dúvidas sobre a sua ferocidade, é vê-lo representado no granito, a boca escancarada e as barbas pingando, num incessante regurgitar da riqueza hídrica das minas da mata. É de justiça acrescentar, todavia, que o Barbadão ninguém afogou e que, uns agora, outros depois, no tempo próprio de cada geração, todos acabam vendo nele um bondoso monstro de estimação, afinal a quem agradecidamente se deve ser o Lago um aprazível aquário, bordejado de nenúfares, e não o palco sinistro de alguma tragédia familiar».
(in O Morgadio de Pindela, ed. Autor, 1999)