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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

As boas decisões da vida

João-Afonso Machado, 04.07.11

É o que mais há no depósito de SMS's do meu telemóvel: importantes decisões, mensagens que são verdadeiros ensinamentos para a vida. E que vida, meu Deus! A minha?

Não consigo perceber. Evidentemente, esta não será a hora dos pormenores, mas aqueles meses todos merecem uma leitura atenta, bem reflectida.

E talvez sazonal. Recomendando-se os recados de inverno, mais ríspidos e agrestes, para tempêro da canícula; já os de verão constituem um excelente borralho nas nossas gélidas noites minhotas.

Noutro registo, há ali matéria bastante para afastar qualquer senhora inoportuna, pouco agradável à vista. Como também abundantemente poderei argumentar em minha defesa, na hipótese inversa...

Será, assim, de telemóvel em riste que tenciono enfentar a morte, brandindo bem alto as mais portentosas juras de amor eterno, ou da eternidade do amor, tão presentes nesse bendito armazém SMS.

 

 

Natal sem subsídio

João-Afonso Machado, 04.07.11

Tem de ser. Acredito que sim, o subsídio de Natal esvair-se-à num imposto extraordinário por absoluta ausência de alternativa. O que, de resto, já todos os mais ligados à política sabiam. Apenas Mário Soares, coitado, quiçá debilitado de memória, manifestou estranheza ante a decisão do Governo - "difícil de compreender, difícil de admitir", nas suas palavras - como se, em 1983, um Executivo por si presidido não tivesse enveredado exactamente pelas mesmas vias. Em tempos, ainda assim, muito menos calamitosos.

E, sobretudo, não me espantará se os portugueses reagirem agora mais resignadamente do que então. Digo isto somente pelo que sinto ao andar na rua, pelo falar das gentes. A ser deste modo, está aí um sinal magnífico da maturidade política dos portugueses. Quero dizer: da fundamental diferença entre a Esquerda e a Direita, enfim captada pela maioria de todos nós.

 

 

A noite, o dia e toda a gente (1)

João-Afonso Machado, 04.07.11

Estavam sozinhos, ele sentado à secretária, rodeado de papeis, quando as palavras lhe caíram em cima, num estrondo esganiçado:

- Já daqui para fora! Bêbedo e mulherengo! E com um pontapé no cu bem dado, devia era ter sido antes!

Desgrenhada, descomposta, desnorteada. De pontaria a esmerar-se em lançar-lhe pedras à cara. Como se, aparentemente, os seus deslizantes dizeres na recepção dessa tarde – investida negocial, tinha explicado – em nada colidissem com tão desbragada atitude. Onde se sumira a erudição prodigalizada ante os convidados, o seu polimento, a interessante conversa sabiamente mantida, sempre naquele notório apetite de se sentir o centro das atenções?

Olhou-a bem nos olhos: isso seria o bastante para expressar a sua reprovação. A sua óbvia indignação. Estava fora de causa responder-lhe de outro modo. Não porque não fosse um exaltado, – ou, pelo menos, como tal conhecido – mas, para todos os efeitos, um exaltado sempre condicionado por algum pudor impeditivo de descer a níveis assim rasos.

Já ela, porém, abandonara o gabinete, batendo a porta violentamente, demolidoramente. Com um suspiro profundo voltou à caneta e ao bloco-notas, sem outro intuito senão o de rabiscar qualquer coisa, alguma frase desgarrada, o alicerce de uma ideia firme. A memória aflorou, então, solidária, prestável, muito em seu auxílio. Refazer o percurso que o conduzira a este recorrente fartote de humilhações teria decerto utilidade.

Haviam decorrido quase dois anos. Quis o acaso ambos iniciassem em simultâneo colaboração escrita com a Revista. Um trabalho empenhado, de parte a parte, a absorvê-los quase totalmente. Era necessário dar boa conta de si. Ainda assim, com breves intervalos para um café, o lanche, uma sande engolida à pressa em marés de maior expediente. Rapidamente a cavaqueira se descomprimiu e galgou as questões profissionais. A vida pessoal dos dois também era tema e havia, descobriram num instante, amigos e conhecidos comuns. Foi a ponte que abriu caminho aos prolongados telefonemas em que ocupavam os seus serões.

Conversavam animadamente e as insistências dela na inocência dessa palração não o incomodavam. Era natural…

(- Sim, claro, mas quem falou em algo mais do que isto, que é nada?),

tranquilizava-a, demonstrando inexistirem da sua parte juízos precipitados, enquanto contabilizava as suas revelações, a espantosa quantidade de informação que percebia ser possuidora a seu respeito. E, fazendo-se distraído, fingia não alcançar o interesse bem espelhado por essa frenética curiosidade. Apreciava o seu sentido de humor, o epíteto de “cavalheiro” com que, entretanto, fora já agraciado.

- É uma excelente pessoa, disso não tenho dúvidas!,

doseava ela, também, as muitas alusões aos muitos candidatos à sua mão. De resto (e sobretudo), sentia-se contribuindo para a felicidade dele com aquelas noitadas ao telefone. Era uma obrigação por si alegremente cumprida, a de o ajudar numa fase da vida que adivinhava menos boa. Uma missão recaindo sobre todos, a de ajudar o próximo… Com prioridade para os mais sozinhos…

- Olhe lá, porquê essa necessidade de se justificar tanto?,

atirou-lhe um dia à queima-roupa. Embatucando, prosseguiu o discurso moralista, muito caritativa, providencial. E não respondeu.

 

 

Bons prenúncios governamentais

João-Afonso Machado, 04.07.11

1. Coisa rara, os professores mostram-se agradados com as medidas já preconizadas pelo Ministério da Educação e Ciència. Algo tão elementar como banir aquelas áreas dos programas escolares com uma denominação extensíssima e uma utilidade duvidosíssima; e reforçar a carga horária do Português, da Matemática, do Inglês, da História e das Ciências. Do que, na realidade, sempre interessou.

2. Entretanto, o Ministério da Defesa, mais do que empenhado em malhar na Esquerda, avalia formas concretas de a Força Aérea Portuguesa prestar um efectivo contributo no combate dos incêndios florestais. O que passa pelo desenvolvimento do avião de transporte militar KC-390 - ao que consta, em oficinas nacionais.