![]()
O castelo pôs-se à nossa frente no repente de após uma curva, e assim nos sentimos entrando em casa nova, manifestamente entusiasmados. Tudo era calor e luz, como se o Inverno fosse apenas histórias ao serão (e tu olhos de alívio porque cessara a travessia do deserto...) e o gozo e o conforto de as contar pela vida fora.
Sequer nos faltava o aquecimento central nesse castelo súbito e acolhedor. Ficámos, sem mais hesitações, sem perceber ao menos o fundamental. As frinchas, as telhas quebradas, os uivos e as vozes sibilinas trazidas pelo vento. Todos os seus fantasmas. Os agressivos dizeres de quem descobre, afinal, o castelo pairava no ar, sem alicerces, cambaleando como um bêbedo filho-da-mãe. Igualzinho a, decerto, mais uma dúzia de ilusões ali em volta.
Viemos embora e perdemo-nos, desorientados. E agora, à distância que o Tempo sempre aumenta, eu contemplo o castelo assente nas nuvens, de vez silenciado. Com tristeza, devo dizer-te. Mas bem ciente de que os castelos não se ganham com sonhos, ganham-se com vontade e força. Com a força da vontade. Nossa, só nossa, à margem de toda a gente... Bêbedo filho-da-mãe, repeti baixinho, sem rancor.
E prossegui. Da montanha para o resto dos dias, através das areias do tal deserto. Jamais alcançando o horizonte onde, cá de trás, já te vejo tropando à porta de outro castelo feito de ar e quimeras, onde às noites que nele dormirás se seguirão as noites a dormir em novos tropeções até ser tarde demais.
Este aceno desconsolado e remoto (sei que o lerás...) é-te dedicado. Foi bom, sinceramente. Mas, que queres?, eu sempre vivi encarando de frente a realidade... Tenha ela as cores e as agruras que tiver.