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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Lições da Arte

João-Afonso Machado, 30.06.11

Nem tudo os séculos destroem. Por vezes, reconstroem, assim haja história, dignidade, imponência.

Eram erupções de pedra nobre sobre o ocre rasteiro, casinhoto. Numa elegância acima do tempo mensurável. Formas esguias de sofrimento e glória, um contrasenso quase.

De olhos nestas colunas percebi finalmente. A obra é vasta e, especados, cada dia é menos um dia. E se o choro se aceita, porque o sol arde e a sede é muita, os choramingas e os medrosos ficam à porta do anfiteatro da vida. Em casa, colados ao ar condicionado.

Seguiram-se resoluções. Urgia chegar aos capiteis. Não escorregaria mais em falácias e planos contraditórios.

 

Irreconciabilidades

João-Afonso Machado, 29.06.11

Os portugueses creio não sejam absolutamente desmemoriados. Ainda em Abril passado os jornais interrogavam, em grandes parangonas, se o Metro do Porto, inocultávelmente falido, teria dinheiro para pagar ordenados no fim do mês.

O seu congénere de Lisboa não vivia, nem vive, tempos mais desafogados. É um estado generalizado a todos os mais importantes serviços de transportes públicos: a Carris, os STCP, a Refer...

Algo, todavia, a parecer não escandalizar a Esquerda. As greves sucedem às greves, a produtividade entrou em plano (muito) inclinado, e assim os comunistas - espicaçando os protestos e emperrando o funcionamento das empresas - apelidam de "defesa dos direitos dos trabalhadores" o que realmente se chama "combate ao sistema". "Capitalista", na sua óptica.

Vem, entretanto, o novo Governo e, coerentemente com o imprescindível plano de limpeza e afinação do sector público, opta por confiar a rentabilização e continuidade (sériamente ameaçada) destes serviços aos privados.

A Esquerda responde em histeria. "A linha de privatizações é intensíssima, tudo aquilo que dá lucro em Portugal é para privatizar, incluindo os transportes públicos", disse ontem o deputado João Semedo, do BE.

Perante isto, como argumentar? Que fazer?

 

"Poemas da Galiza (III)"

João-Afonso Machado, 29.06.11

As águas de novo, jorrando do Norte,

azul transparente,

um véu, vagamente.

 

Derradeiro povo,

singular sorte

de um sem fim e vento,

oceano, oceano, oceano…

sem sul nem nascente

nem poente.

 

Cantábrico!

No topo do mundo,

oceano, oceano, oceano,

azul transparente,

um véu, vagamente…

 

 

A situação, o Estado... e o PS

João-Afonso Machado, 29.06.11

O Governo avançou já com o seu programa. Nem sequer passei os olhos pelo dito, ficaram-me nos ouvidos apenas alguns pontos... fulcrais e "explosivos", obviamente. Deixando pairar a ameaça da renovada influência grega, quase três milénios depois.

Anoto alguns aspectos: a escalada do IVA, a privatização da TAP e de outras empresas de igual monta, o sumiço dos benefícios fiscais...

E - a cause da referida explosividade do programa - a previsivelmente decorrente instabilidade social. O aval que o Destino exige para o fim dos fins. Para esse apocalipse tão depressa utilizado como arma de arremesso como um escudo defensivo.

Encurtando razões, incidamos sobre o papel do Estado, em essência e na circunstancial encruzilhada em que nos encontramos. Antevendo mais uma volátil reacção política do PS.

O Estado tem apenas por função assegurar o Ordem. No mais lato sentido que a proposição possa abarcar. Que é o de garantir o bem-estar dos cidadãos, corrigir assimetrias. Fora disso, não há defenições nem dogmas.

Concretamente, no que tange às privatizações, o Estado não tem de - nem pode - falar de cor. Deve é zelar para que estas não prejudiquem a população, antes de demagogizar sobre o enriquecimento dos empresários. Porque ele próprio - o Estado - vem sendo, descaradamente, o ente mais rico e esbanjador, o mais esfomeado explorador de todos nós: via sobrecarga fiscal em permanente agravamento. Para se pagar a si próprio.

Seja-nos dada, por contrato - o "contrato social" de Rousseau... - a segurança nas ruas e em nossas casas. O Estado outorga? - nós pagamos. Seja-nos dado o acesso aos cuidados de saúde. O Estado cumpre? - nós pagamos. Não tem meios o Estado? - recorra às parcerias publico-privadas, tão do seu gosto, e nós pagamos. Mas sem cambalachos agora, por favor.

E por aí fora... Na expectativa de um pouco de decoro por parte do PS, a ver se conseguimos esquecer os escandalos diariamente vindos à tona. O fruto dos últimos seis anos de governação dita "socialista".

 

"Finito"

João-Afonso Machado, 27.06.11

Foi o tempo das caretas,

passou. Foi um vento,

soprou. Foi um momento,

avançou. Foi uma, tantas metas,

não alcançou.

 

Contemos o tempo,

oiçamos o vento,

viva-se o momento:

 

tudo acabou.

 

 

O PS refundido

João-Afonso Machado, 27.06.11

É merecedora do maior respeito a vitalidade de Mário Soares, na sua idade ainda invectivando os seus desanimados e desorientados camaradas. Mas quanto ao PS - nem refundido nem (como ele propõe) refundado. Pela muito simples razão que nada há a refundir ou a refundar. O PS é o que sempre foi e jamais deixará de ser - o herdeiro moral da I República. Apenas e com tudo o que isso significa.

Por tal razão o "socialismo" volveu à gaveta há mais de trinta anos. de onde, aliás, em boa verdade sequer saíra. O PS nunca teve sequer uma ideologia, um programa, uma meta. Tem (mantem) apenas um slogan: Liberdade, Igualdade, Fraternidade. E, realmente, amplo campo de manobra, acesso pleno à irmandade que o povoa - a Maçonaria. Isto é: a negociata, o tráfico de influências, o poder pelo poder.

Salvo, bem entendido, as boas almas e as boas intenções que distraidamente vão tropeçando nessa sua essencialidade.

 

Um barril (afinal) nunca tem pólvora...

João-Afonso Machado, 27.06.11

É uma mancha florestal considerável: umas dezenas de hectares a pinheiros, eucaliptos, carvalhos e acácias, árvores exóticas.

Anteontem, já em final de serão, alguém à janela, felizmente, viu-o atravessar o breu da noite.

Não era um OVNI - era um balão sanjoaneiro!...

Uns minutos volvidos, acendia-se uma vasta claridade do lado de lá do monte: o balão tinha aterrado...

De realçar a prontíssima intervenção dos bombeiros, e o seu cuidado em impedir que o restolho reacendesse. Apagaram o fogo, partiram a encher o reservatório de água da sua viatura e regressaram para empapar o terreno. Foi longa a noite dos homens da Real Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de V. N. de Famalicão (de seu nome completo).

A questão primordial a saber, então, é se será portuguesa esta gente pirómana e assassina de Portugal.

 

Não parece hoje

João-Afonso Machado, 26.06.11

Somos palavras e elas não escolhem estações do ano para se incompreederem e tempestuarem. Apenas trazem na espuma da sua voz as vergonhas ou os refúgios onde tentam esconder os seus significados. E, assim baloiçando, não lhes doem as vítimas do naufrágio, o derradeiro esforço de um salvamento que se gorou. No calor da manhã estival a borrasca mata longe da percepção dos olhares.

A vida é isto. A água do nosso corpo. A sua secura quando o fim se avizinha.

 

Para não enferrujar

João-Afonso Machado, 25.06.11

Do nosso vale a Famalicão distam seis quilómetros. Mandei hoje as minhas pernas fossem à cidade por seus próprios meios. E assim regressassem - a pé. Obedientemente cumpriram a ordem. Em 50 minutos, contabilizaram elas, puseram-se lá. Para cima - por ser para cima - um pedacito mais. Pois sim, aprovei, elogiando-lhes o comportamento.

No trajecto, um coelho bravo a coriscar da berma  para o mato (mas a pasmona da máquina fotográfica caminhava dentro do estojo...), as rolas que já se ouvem nos pinheiros e trechos assim, ainda em poder da heróica Resistência Baixo-Minhota. Antes das agruras da EN 14, já em zona de ocupação inimiga.

Tragado o almoço, deixei-as dormir a sesta. Merecem, coitadas.

Outros modos de circular

João-Afonso Machado, 25.06.11

Ruas de pavimento líquido, ondulando à medida que a viatura segue ronceiramente, também ela em não aflitivos sobressaltos. Tudo é calmo e acolhedor. Acodem à janela os residentes em tantas habitações sem alicerces, ora menos, ora mais altas, consoante os caprichos das águas. Mas sempre muito ciosas dos seus vasos floridos, da gaiola do periquito, mesmo do cachorro latindo à passagem das embarcações.

Não faltam as regras de trânsito, os viadutos, como hoje se chama às pontes. Nem a toponímia. E, sobretudo, um sossego imenso - esse preciosissimo bem, o maior anseio de quatro portugueses acabados de chegar de um sonho mau.

O sonho de uma doença, a falta de quem jamais desaparecerá. Como não creio este piso, de forma variável, algum dia suba acima dos limites impostos na pedra. Em tudo a fé tem de marcar presença - na vida e em Amsterdão.

 

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