Será equívoco?
- How do you do, Mr. Anderson?
avançava eu, já quase a estender a mão. Um clarão de luz susteve, porém, a gaffe. Não, o tempo não permanece estático, como as capas dos discos de vinil. Ian Anderson pertence à minha juventude e ao que dela mantenho e tenciono conservar. Os Jethro Tull deixaram de editar, nem mesmo sei se ainda tocam. Quando muito, eis-me perante um neto do grande Ian, talvez o mais velho. O seu sucessor naquela genial arte da flauta transversal.
Embora o rapaz empunhe a gaita-de-foles... E está em Compostela, o malandro! Fugiu de Stonehenge! Em que Heavy Horses? Too Old to Rock & Roll Too Young to Die, será? Pernas para que vos quero Songs From the Wood! Bardo fajuto! This Was, pronto!
Mas depois reparei no ar triste do siberiano, atrelado ao portal, nem por isso apreciador da melodia. Encolhido, quase a pedir um trenó, antes a corrida, as patas enterradas na neve. E percebi, enfim. Estava ali um refugiado político, um monárquico exilado em uma das maiores capitais da Fé protectora.
E, obviamente, deixei-o sossegado e incógnito. Retirei-me discretamente, certo de que encarara, a meia dúzia de metros, um descendente de Nicolau II.
No regresso do passeio ele desaparecera. Qualquer dia encontro-o em Braga. Aposto!