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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Hora de almoço

João-Afonso Machado, 23.05.11

 

- A Doriana disse que já contava o público a escolhesse para abandonar a "Casa dos Segredos"...

- Sim, parece que a Joana tem um romance com o Hugo e por isso não a mandaram embora.

- Pobre Doriana! E a Mãe, tão emocionada, a chorar. Que tristeza!

- É, que seria de nós sem a TVI para nos distrair?...

- Levaste muitas crianças hoje?

- Umas seis ou sete...

- Às costas?

- Não, na carroça. Mas bem alimentadas...

- Não te chores. Com o preço da gasolina a subir, qualquer dia andamos aí a transportar os pais...

- Era o que mais faltava! Uma baby sitter como eu! Para isso tinha ficado lá na terra, em Miranda, a carregar azeitona!

- Pois, mas sabes como é connosco, emigrantes. Muitos já estão a regressar.

- Olha, a Doriana apaixonou-se aos 17 por um homem de 33 anos e fugiu com ele. A família apoiou, mesmo sem o conhecer... 

 

 

Gente de bem

João-Afonso Machado, 23.05.11

Um camião TIR a olhar para um palácio. Com as cortesãs à janela. Isto em plena auto-estrada! Foi o pânico, familiarmente, quando encostei o carro para o inevitável retrato.

As cegonhas cultivam o curioso paradoxo de gostarem de vizinhança, conquanto fugindo sempre de intimidades. Imunes ao ruído, aparentemente, apenas as incomodam todos os olhares um pouco além de fugazes. Daí esta santa vigília, dia e noite, revezando-se, decerto, à cata de vermes nos lodaçais ribeirinhos. E a comunidade cresce, os ninhos multiplicam-se, ocupando já os circundantes postos de electricidade. Sempre nesta vida de meditação. Ou de levitação, uns passos acima do tejadilho dos monstros rodoviários.

No fundo, aprenderam sábiamente a lidar com o mundo urbano. Sedentarizaram-se. Já não migram de fralda atada no bico e um bébé lá dentro. Mas continuam a ser o sinónimo de voos felizes e fecundos. Sem ansiedades, sem gritaria, sem o malfadado stress. Grande lição, a das cegonhas, mais as suas janelas de vidros duplos voltadas para a chinfrineira da rua.

Talvez porque os Bancos não as sorvam com juros, nem o Estado com impostos. Afinal, as cegonhas limitam-se a andar por aí, jamais perdendo o estatuto de gente de bem.

Lá vem uma, com o papo cheio, adivinha-se. Está, corriqueiramente, de regresso ao ninho. Há muitos anos que come o mesmo e não paga mais.

 

De feira em feira

João-Afonso Machado, 23.05.11

Terminou ontem a Feira Medieval de V. N. de Famalicão. Não que os navios do deserto, vulgo dromedários, tenham muito a ver com a nossa Idade Média, mas, sem dúvida, trazem uma aprazível imagem exótica a lugares provincianos, esses mesmo onde tão aprecio estar. Sobretudo em vésperas da inauguração da feira seguinte, a dos desperdícios, mais conhecida por "campanha eleitoral". A não ser visitada por mim, eterno desempregado partidário e alheado de quaisquer novas oportunidades. Com opção de voto já assumida.

O guião está de antemão defenido. A Esquerda comunista glosará até à exaustão o mote da "renegociação da dívida". O PS atirar-se-á ao PSD, como gato ao bofe, culpando-o da "crise política". Passos Coelho correrá este nosso quintal à beira-mar plantado, a desmontar as maquinações de Sócrates. E o CDS não perderá um mercado, uma lota, em busca de um lugar decisório na constituição do futuro Governo.

Enquanto isso, os dignitários da UE e do FMI, de mãos nos bolsos, expectantes, hão-de sorrir travessamente, no coffee break, comentando entre si:

- Tss, tss, estes tipos nunca mais ganham juízo.