Eramos muito miúdos, eu e os meus irmãos. O Pai, um apaixonado do campo, da caça, dos animais. E a região - Vila do Conde, Trofa, Famalicão - um alfobre de boas trelas de galgos, de criadores da melhor reputação e frequentes competições ao longo do ano.

Assim entrámos, também, no mundo das corridas. Com um galgo negro luzídio, belíssimo, oferta de uma familia de caçadores com quem o Pai emparceirava. Era o Skippy. Carregado de colares de abraços nossos, seis irmãos totalmente rendidos à simpatia de um cão que até sabia rir.

No Verão, inevitávelmente, o Skippy foi inscrito numa prova em Vila do Conde. A sua estreia, e a inabalável convicção numa vitória fácil, dada a sua corpulência, a sua vitalidade. Nada que fosse só dos nossos olhos, como logo se confirmou no tiro da partida. O Skippy tomou a dianteira, folgadamente, já com umas dezenas de metros de avanço sobre os outros concorrentes, o Pai sorrindo todo pranzenteiro (estava orgulhosíssimo, mas... enfim, não ficava bem exteriorizar) e nós numa gritaria delirante, a incentivá-lo

- Skippy!, Skippy! Anda, Skippy!

até que o Skippy, acachorradamente, lá pensou que o estávamos a chamar. E, muito obediente, abandonou então a perseguição da lebre e voltou para trás, a rir-se, a cauda a dar-a-dar, pronto para mais umas lambidelas nos donos.