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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Equações governamentais

João-Afonso Machado, 17.05.11

Ambos declararam já - Sócrates primeiro, Passos Coelho depois - o próximo Governo deverá ser constituido a partir da formação política mais votada em 5 de Junho.

Mas são obviamente distintos os destinatários do recado.

José Sócrates dirigia-se ao Presidente da República. Invocando os usos e costumes, não querendo deixar esquecer que estes são também fonte do Direito. O seu objectivo é claro: obstaculizar qualquer ideia peregrina de Cavaco Silva, a dar-se o caso de as medalhas de prata e de bronze serem para o PSD e para o CDS, ainda assim garantindo uma maioria parlamentar.

Já Passos Coelho falou para o eleitorado. Renegando - pública e sonoramente - qualquer projecto de reedição do Bloco Central. Manifestando, desde logo, ou o seu partido é vencedor (com ou sem necessidade de se entender com o CDS), ou então Portas que se amanhe com os socialistas.

E, mais letra, menos treta, Portas fá-lo-à. Com aquele ar grave, de dedo espetado, porventura citando Churchill - "Blood, sweat and tears"...

Assim Passos Coelho somou mais um ponto a favor, apesar da sua candura. Ou terá sido por causa dessa sua candura?

 

Pensamentos de um homem bom

João-Afonso Machado, 17.05.11

Conheci o Padre Vasco Pinto de Magalhães, da Companhia de Jesus, em 1978, numa semana de Julho em que acampámos na Berlenga. De lá para cá... a vida deu muitas voltas, fez algumas derrapagens e suportou umas tantas mossas na chapa. Mas a sua amizade foi, e é, uma presença constante E a minha admiração por esse homem simples e afável cresce sempre que recebo, como hoje, mails com textos de sua autoria. «Já agora vale a pena pensar nisto», sugere o P. Vasco Magalhães. No seguinte:

«A primeira característica do amor é a inteligência. Se o amor não é inteligente, não é humano, e até nem sequer é amor! Amor é compreender o outro, dar-lhe o lugar certo, ir ao encontro das suas necessidades e dar-lhe equilibradamente o que ele precisa e eu lhe posso dar. Ora isso só se faz com inteligência, com uma sensiblidade que sabe discernir. Inteligência quer dizer "lêr por dentro" a realidade. Posse e prazer são uma caricatura do amor. Entregar-se e acolher inteligentemente é próprio de quem ama. Aqui o grande modelo é Cristo».

O mundo seria realmente diferente, se todos fossemos assim lúcidos!

 

Este e outros trambolhões

João-Afonso Machado, 17.05.11

Quem se recorda do velho Estádio do Bessa conhece o resto da história: aquela época ímpar, o título, um fausto imenso de volta do clube, dos seus dirigentes, sócios, adeptos. A Pantera subiu, subiu, parecia mesmo alcançar o topo e ficar lá.

Mas não. Os forças faltaram-lhe e o tombo foi estrondoso. Terá sobrevivido, mas continua coxeando algures, nem sei ao certo onde.

A novela prossegue com as manobras dos seus responsáveis, tribunais, dinheiros sumidos, toda esse fadário que a Imprensa publicou aturadamente.

Mas ficou a lição: quão próximo é o parentesco entre os importantes do futebol e da política; e (agora que estão para chegar os primeiros milhares de milhões da ajuda externa) conviria não voltássemos a esquecer que isto é Portugal, não uma fábula de La Fontaine.

 

"Cenóbio"

João-Afonso Machado, 17.05.11

Terra longe, deserto

em brasa e eu com frio…

Diz-me monge, tu sozinho

é certo ires em asas

no céu, Deus te ouviu,

ofereceu-te um ninho?

 

Mais não queria. Queria quem?

E o quê? Mais não queria,

monge, nem mais via

senão

a tua gruta, a nudez

do teu dia, ontem e hoje,

monge, amanhã,

solidão, solidão, solidão,

o fim da luta, acabou

a disputa, acabou de vez…

 

(o grilo, o coaxar da rã,

o céu estrelou…)

 

Monge, o céu chamou

e também irei.

Será o meu tecto,

aonde, não sei.