Equações governamentais
Ambos declararam já - Sócrates primeiro, Passos Coelho depois - o próximo Governo deverá ser constituido a partir da formação política mais votada em 5 de Junho.
Mas são obviamente distintos os destinatários do recado.
José Sócrates dirigia-se ao Presidente da República. Invocando os usos e costumes, não querendo deixar esquecer que estes são também fonte do Direito. O seu objectivo é claro: obstaculizar qualquer ideia peregrina de Cavaco Silva, a dar-se o caso de as medalhas de prata e de bronze serem para o PSD e para o CDS, ainda assim garantindo uma maioria parlamentar.
Já Passos Coelho falou para o eleitorado. Renegando - pública e sonoramente - qualquer projecto de reedição do Bloco Central. Manifestando, desde logo, ou o seu partido é vencedor (com ou sem necessidade de se entender com o CDS), ou então Portas que se amanhe com os socialistas.
E, mais letra, menos treta, Portas fá-lo-à. Com aquele ar grave, de dedo espetado, porventura citando Churchill - "Blood, sweat and tears"...
Assim Passos Coelho somou mais um ponto a favor, apesar da sua candura. Ou terá sido por causa dessa sua candura?