Das "Memórias de um Átomo"
«Meu prezado Amigo:
Dusseldorf está infernal. Vai lá uma semana, ninguém dorme, tal a algazarra nas ruas. Quem diria!, nesta cidade sempre pacata, trabalhadora, disciplinada...
Anteontem o chinfrim calhou-nos em sorte, mesmo à porta da Legação. Mandei a Simone saber o que se passava e ela regressou em pânico, jurando por todos os deuses que eram os SUV's, acabara de encarar o Duran Clemente de megafone em punho, o Otelo e a sua boina, todos a invectivarem à revolução.
Pobre Simone, nunca mais recuperou daqueles tremendos anos que a querida Pátria sofreu...
Mas o Nascimento informou-se e, afinal, tratava-se apenas de um grupo de saltimbancos. Portugueses, é claro... Que quer o meu Amigo? Somos assim...
Ao que parece, vinham participar num qualquer festival. E, à cautela, foram logo organizando a claque. Inutilmente, porém. Nada conseguiram ante o folclore do Azerbeijão e da Grécia, Russia, Hungria e demais pitorescas nações. Este género de espectáculos, no entanto, está cada vez mais em desuso. Eu e a Tonicha, verdade seja dita, nem por solidariedade com os nossos patrícios abdicamos do genial humor televisivo do Danny Kaye.
Receba, meu caro amigo, um forte abraço do seu
atento, grato e obrigado
J. da Ega»