Linha do Norte
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É um amplo deserto de convergências. Mas a viagem prossegue ondulantemente, ora abaixo, ora acima, num quadro onde só não são intermitentes os postes de alta tensão. E os carris sempre hirtos, rectilíneos até se juntarem, muito lá atrás, num ponto só.
(Bizarra via coberta de vegetação, bitola estreita e musgos, sentido paralelo mas ferrugento, proveniente de que passado?).
Em redor do comboio a paisagem é enganadoramente cinzenta. Incaracterística. Sempre igual na diversidade dos quintalórios e das vinhas, das duas ou três cabras pastando em qualquer recanto que se repete. Só muito esporadicamente as janelas se pintam do verde dos pinheirais. Antes do súbito empobrecimento feito de carrasqueiras, montes agrestes e esfomeados, sem vivalma. Progredindo para o pó, elevações de terra solta, acumulada pelas obras de um gigantesco viaduto a carregar o futuro de sombras sobre as nossas epopeias. Até mais um necrotério de fábricas confortado com o nome de lugares sagrados, em imprevista paragem do comboio. Nessa diminuta e quieta estação onde somente se ouve o canto das ramagens dançando melancolicamente.