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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

"Ainda vamos ter muitas saudades do PEC IV"

João-Afonso Machado, 29.04.11

Na verdade, Sócrates está carregado de razão. O PEC V será sobremaneira mais pesado - venha ele por imposição da Troika, ou antes resultasse, mais mês, menos mês, de outra descarada manobra do Governo ora cessante.

Aliás, quisesse Sócrates dizer tudo, na sua entrevista à TSF, recordaria ainda mais nostálgicamente os belos tempos do PEC III. E, já agora, os parasidiacos dias dos PEC's II e I. Desses sim - que saudades, meu Deus!

E que dizer da Antiguidade pré-Pequiana? De quando não havia PEC's? Nem Sócrates?

Remota época essa, em que os símios se entretinham com bananas, refastelados nos galhos, e não em piruetas políticas na cidade...

 

 

Missão casamento

João-Afonso Machado, 29.04.11

O casamento do ano... O casamento do século... Um casamento tirado de um "conto de fadas"... A gente vai ouvindo de tudo. Estas e outras parolices a cargo dos nossos enviados especiais da RTP, da SIC, da TVI.

Em boa verdade, escapa-me o porquê de tais missões. A festa não era portuguesa, pertencia aos britânicos. E estes, sim, - aproveitaram-na em pleno. No maior entusiasmo. Na alegria de um povo inteiro que se sentiu convidado para uma comemoração acima de tudo simbolizando a continuidade da sua identidade nacional.

Foi o que se viu nas ruas de Londres. Alguém imagina, cá pela Tortuga, semelhante euforia no casório de um filho ou filha, neto ou neta de qualquer dos passageiros presidentes desta atrasada República?

Será que os britânicos gostam da ditadura hereditária - ou não será antes que já é tempo de nos irmos libertando de certos preconceitos?

 

Alberto João, o sublevado

João-Afonso Machado, 28.04.11

Prevê a Constituição da República as Regiões Autónomas sejam ouvidas em casos relevantes e de interesse nacional. Como ocorrerá, certamente, nas averiguações que a Troka vai levando a cabo, não obstante o aparente desprezo (até à data) votado à Madeira e aos Açores.

Do Funchal, por isso, chegou já o recado, a promessa: sem prévia audição, o Governo Regional não cumprirá algumas das medidas preconizadas pelo FMI.

Ontem mesmo telefonei a uns amigos de sempre, madeirenses de berço e lar. A pedir-lhes abrigo, por uma temporada, assim Alberto João bata o pé e faça recuar o invasor. Porque tenciono abrir banca por lá. De carpinteiro, é claro.

 

O camarada Jerónimo

João-Afonso Machado, 27.04.11

O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, é merecedor do respeito devido a quem acredita falar não mais do que a verdade; e de admiração pela sua persistência, pelo espírito de cruzada ao serviço da sua causa, uma após outra derrota eleitoral até à vitória final.

Mas Jerónimo de Sousa suscita também, presentemente, a maior preocupação. Pela sua ortodoxia, pela rigidez com que encara o momento nacional. Isso ficou claro na sua entrevista televisiva de ontem à noite.

A seu ver ("a nosso ver", assim principiava sempre Cunhal...) a vinda do FMI, do BCE e da CE traduz apenas uma ilegitima intervenção "estrangeira", atentatória da nossa soberania e determinada por uns tantos "banqueiros". Aliás, os culpados da crise, para si, são, manifestamente, os sucessivos Governos e o "sector financeiro". Ponto final.

E, assim patrióticamente, rejeita de modo liminal qualquer acordo envolvendo as "massas trabalhadoras" em qualquer plano de austeridade. Como quem ainda diz - os ricos que paguem a crise.

A solução estará para Jerónimo na "renegociação da dívida". O que seja isso, ele não sabe explicar, passando rápidamente do seu apego às fronteiras lusas para um internacionalismo preconizante da "convergência dos países assaltados pelos especuladores".

Em suma, parece evidente que os resultados eleitorais próximos não afligirão Jerónimo. A "luta de classes" existe, afirmou. E no processo histórico da construção do socialismo, o PCP continua a querer estar na vanguarda. De megafone em punho, na rua. Outra vez contra a burguesia.

E os ventos já sopram, e muito mais hão-de soprar, à feição do seu discurso. Nada augurando de bom, porque as convulsões sociais não são própriamente a melhor terapia anti-bancarrota.

 

 

Incorrigíveis!

João-Afonso Machado, 25.04.11

Admito haja ainda quem não goste de José Afonso. Simplesmente porque "Grândola, Vila Morena" é o hino que é, o PREC foi o que foi, existem outros cravos para além dos vermelhos... e a atitude política continua, entre nós, a orientar-se pelas regras próprias da clubite futebolística.

Ouvi este fim de tarde, com prazer, repousantemente, José Afonso. Uma colectânea inteira das suas melhores baladas. Sem querer saber das suas convicções políticas - onde já vai o PREC... - e curioso apenas em descortinar se, tantos anos depois, Portugal é realmente importante para os portugueses. Melhor dizendo: para a nossa classe política, destinatária dos nossos votos.

Isto após a inédita iniciativa de Cavaco Silva, convidando ao discurso todos os seus antecessores. Terá valido a pena o esforço?

Respondeu primeiro Carvalho da Silva, em crítica acesa que, dos quatro, só poupou Jorge Sampaio. Vá lá adivinhar-se porquê...

Depois o PCP (Bernardino Soares), rejeitando quaisquer consensos políticos que nos coloquem no "buraco". Leia-se: que envolvam negociações com o FMI e a UE.

Por fim, Sócrates, candidamente afirmando-se o campeão da concertação, em evidente ataque aos partidos da Oposição. À saída de Belém!

Incorrigíveis!, eles são incorrigíveis!, para parafrasear o druída Panoromix, já que tantas foram os autores citados pelo Gen. Eanes na sua alocução.

 

Evocações

João-Afonso Machado, 25.04.11

Conheci Pedo Feytor Pinto ainda nos meus anos de Universidade. Rabiscava, então, umas crónicas para o Primeiro de Janeiro, de que ele era o director. Regularmente me deslocava à Rua de Santa Catarina, por isso, a entregar-lhe em mão as minhas folhas A4 dactilografadas.

Era ainda a primeira metade da Década de 80, a tempestade política não amainara completamente. Sá Carneiro fora assassinado, a AD esboroara-se, imperava o Bloco Central. A minha escrita contra o Regime usava palavras duras, radicais. Reaccionárias.

Feytor Pinto lia os textos diante de mim, ria-se, coçava a cabeça e recomendava moderação. Mas publicava. Até porque não escondia a sua simpatia pelo Ideal Monárquico.

Nunca mais o encontrei. E hoje descubro no Expresso uma sua entrevista e a notícia de um seu recente livro de memórias - "Na Sombra do Poder" - que lerei com agrado. Foi o homem que personificou as negociações entre Marcelo Caetano e Salgueiro Maia e Spínola, em 25 de Abril de 1974.

De resto, não me passou despercebida a sua opinião (nessa entrevista) sobre Marcelo, provávelmente "em democracia um grande primeiro-ministro". Quem sabe? Adelino da Palma Carlos não o foi apenas porque a Esquerda começou a trepar e ele lidava mal com a desordem. E, depois de Sócrates, só mesmo em autocracia se poderá encontrar um chefe de governo mais intransigente.

 

Resurrexit

João-Afonso Machado, 24.04.11

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(Narrativa que Trindade Coelho, em In Illo Tempore, e Antão de Vasconcelos, nas suas Memórias do Mata-Carochas, dão como absolutamente verídica)

O poeta João de Deus era também um primoroso desenhador. Nos seus tempos de Coimbra, recebeu um dia um album da mais formosa e admirada menina da cidade para, conforme o costume da época, a homenagear com alguma genialidade sua.

João de Deus decidiu figurar ali, artisticamente, O Descimento da Cruz. E, na natural atitude de um boémio, foi fazendo o trabalho. Sem mais o concluir, não obstante as muitas insistências dos emissários da prendada dona do album.

Até que um dia, já cansado e farto dos recados mil vezes repetidos, o entregou no estado em que se encontrava. Mas, quando o portador volvia, num repente chamou-o

- Alto! Trá-lo cá...,

e, novamente com O Descimento da Cruz nas mãos, pegou numa borracha, apagou o desenho, deixando apenas alguns traços, e escreveu na folha:

Resurrexit, non est hic!

E assim o remeteu à destinatária, definitivamente.

 

Tradições locais

João-Afonso Machado, 22.04.11

Souselas, Coimbra. Antigamente uma aldeia distante cerca de 9 km da cidade. Já em pleno mundo rural, onde nem sempre havia abundância.

Aí por 1860, mais ano, menos ano, a família Nazareth, fixada em Souselas, instituiu o costume de, todas as Sextas-feiras Santas, oferecer às crianças da terra uma sopa de feijão e broa, enfim, um suplemento sempre festejado, face aos parcos recursos de muitos.

Vinha a miudagem, cada um trazendo o seu prato e a sua colher, os portões da casa abriam-se... Assim durante décadas e décadas, todas as Sextas-feiras Santas. Enquanto a quinta não se tornou apenas um local de férias e descanso.

Já mais recentemente, o Grupo Etnográfico da Casa do Povo de Souselas retomou a tradição. A organização da "sopa de feijões" pertence-lhe, actualmente, mas a casa dos Nazareth's continua a abrir os seus portões à catraiada. E vêm todos. Mesmo os pimpolhos de há setenta anos, agarrados agora às suas bengalas, a matar saudades. E continua a fartura de caldo e broa, mais os condimentos das boas recordações e de qualquer chouriço, com um copo de vinho a empurrá-lo para baixo...

 

 

Três da tarde

João-Afonso Machado, 22.04.11

Se a Fé move montanhas também há-de conseguir escorar a Verdade. O sofrimento foi prolongado e imenso, cessando pelas três horas dessa tarde, em que Cristo morria na cruz. Oferecendo-se assim para redimir as nossas faltas.

Por isso Deus mandou ao mundo o Filho do Homem. E é bom tê-lo sempre presente: Jesus foi homem, como nós somos, é homem também, pelos séculos fora o elo de ligação entre a nossa Cultura e o Criador. Portador de uma mensagem nova de paz, amor e esperança que paulatinamente nos encarregamos de recusar ouvir.

Vão lá dois milénios. Entre a História e a Religião, Cristo permanece connosco. Aliás, marcando indelévelmente o Tempo, antes e depois do seu nascimento. Por todo o planeta, entre todos os credos.

E este dia misterioso em que, pelas três da tarde, Jesus sucumbiu finalmente, pregado no madeiro, continua a ser solenemente evocado em cerimónias sempre participadas, nas ruas mais diversas localidades localidades minhotas.

 

"A violência é um desporto"

João-Afonso Machado, 20.04.11

O aforismo é da autoria de um intelectual anónimo, membro das claques benfiquistas - «a violência é um desporto», escreveu ele, algures numa parede perto da Luz. Assim se começam a perceber melhor os repetidos conflitos entre os adeptos encarnados e as forças policiais. Afinal, será tudo uma questão competitiva, mesmo de manutenção da saúde fisica.

Iria mais longe: violência e crime andam geralmente de mãos dadas. Legitimamente poderemos, então, questionar se o o ilustre pensador que assim se exprimiu, acerca da brutalidade, não aceitará também levar o ilícito penal quiça até às Olimpíadas...

E não apenas. Dada a vaga de assaltos a gasolineiras, caixas multibanco, ourivesarias... - eis não mais do que a adrenalina no seu auge, mediante riscos apesar de tudo comedidos e proveitos usualmente rentosos.

Evidentemente, são só alguns a pensar deste modo bizarro. Os bastantes, porém, para assegurar a nossa insegurança. E com tendência, estou convicto, para crescerem em número.

Era prudente todos meditarmos nestas máximas e nesta realidade.

Já me esquecia: vamos à final da Taça. Sem dúvida o azul-branco são as nossas cores de sempre. Do futuro também, por isso.

 

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