O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, é merecedor do respeito devido a quem acredita falar não mais do que a verdade; e de admiração pela sua persistência, pelo espírito de cruzada ao serviço da sua causa, uma após outra derrota eleitoral até à vitória final.
Mas Jerónimo de Sousa suscita também, presentemente, a maior preocupação. Pela sua ortodoxia, pela rigidez com que encara o momento nacional. Isso ficou claro na sua entrevista televisiva de ontem à noite.
A seu ver ("a nosso ver", assim principiava sempre Cunhal...) a vinda do FMI, do BCE e da CE traduz apenas uma ilegitima intervenção "estrangeira", atentatória da nossa soberania e determinada por uns tantos "banqueiros". Aliás, os culpados da crise, para si, são, manifestamente, os sucessivos Governos e o "sector financeiro". Ponto final.
E, assim patrióticamente, rejeita de modo liminal qualquer acordo envolvendo as "massas trabalhadoras" em qualquer plano de austeridade. Como quem ainda diz - os ricos que paguem a crise.
A solução estará para Jerónimo na "renegociação da dívida". O que seja isso, ele não sabe explicar, passando rápidamente do seu apego às fronteiras lusas para um internacionalismo preconizante da "convergência dos países assaltados pelos especuladores".
Em suma, parece evidente que os resultados eleitorais próximos não afligirão Jerónimo. A "luta de classes" existe, afirmou. E no processo histórico da construção do socialismo, o PCP continua a querer estar na vanguarda. De megafone em punho, na rua. Outra vez contra a burguesia.
E os ventos já sopram, e muito mais hão-de soprar, à feição do seu discurso. Nada augurando de bom, porque as convulsões sociais não são própriamente a melhor terapia anti-bancarrota.