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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Jorge Lacão traz novidades

João-Afonso Machado, 01.02.11

Consta ser propósito do irrequieto ministro socialista homenagear os mártires da Pátria, pese embora a sua recusa em apontar quais mártires e defenir o que é a Pátria.

Ainda assim: Lacão defende a redução dos deputados da República, de 250 para 180. Em sinal de apreço pelo sacrificio de tantos em prol dos respectivos ideais e valores. Dada a previsivel necessidade de um processo de revisão constitucional, propõe-se mesmo concretizar a medida através do normativo do Código de Trabalho.

Termo do mandato com base em despedimento colectivo, extinção do posto de trabalho, inadaptação, fim do período experimental, justa causa... Sobram os fundamentos para levar a cabo tão edificante iniciativa.

E porque o exemplo vem de cima (o que nada tem a ver com questões de altitude...), Lacão, ele próprio, já se voluntariou para um acordo de resolução do contrato. Até porque, acrescenta, com a sua longa carreira ministerial, não está, de todo, agarrado à função parlamentar.

 

Memória do Carregal

João-Afonso Machado, 01.02.11

 CARREGAL.JPG

Lembro bem o que custou fazer-te sentir os jardins da cidade. De todos, o do Carregal seria o meu preferido, fechado como uma concha, a proteger-se da Urgência do Santo António, do IML, de tanta porcaria que o cercava. Mas, indo além nos seus carreiros, era o laguinho, a ponte, os patos... E uma sombra, um silêncio cúmplice, muito calhados em convidar a palavrinhas meigas ao ouvido, só se tem vinte anos uma vez, não é?

Sem perceberes porque não te levava ao shopping, sempre aceitaste, contrariada, a experiência. Uma voltinha pelo Carregal. Foi em uma data importante qualquer, mais uma excentricidade minha, monárquico, mas como não ser laranjinha, como não rejubilar nos dias de campanhas eleitorais?

(Facilitara muito a leitura de Pessoa e de Mário de Sá-Carneiro; e, com uma pitadinha de Florbela Espanca, a tua perplexidade derivou para as bandas do romantismo contestatário. Pagaram a factura os pobres teus pais, ordeiros e cumpridores funcionários públicos...).

Sentámo-nos no banco, como se chegássemos ao apartamento de que ambos não dispunhamos. E não é que resolveste implicar com as penas dos patos esvoaçantes, ou mesmo com certos esverdeados inevitáveis em todos os recintos de aves?

Não, o futuro era inexistente. Circunstância complicada porque namoravas e estudavas visando o casamento, logo às primeiras badaladas do canudo e da licenciatura. Ajuizadamente, responsávelmente, na mesma pose com que militavas no teu partido político e fazias caretas aos bifes mastigados da Adega da Figueiroa.

Acabaste mandando-me à missa - em latim. E eu fui. No regresso, estes anos todos depois, encontrei-te bem casada, duplamente mãe, feliz na profissão e feliz em casa. E muito afeiçoada à minha Monarquia de sempre.

Já não sei aonde nos revimos. Sei apenas que, toda empiriquitada, rumavas a um jantar de celebridades. Se eu não ia? Não, não vou. Sigo com a rapaziada mais nova, ao bife mastigado da Figueiroa.

Coraste. E aceitaste, sem mais demoras, o braço que o teu marido te oferecia.