O "divórcio"
A instâncias de Judite de Sousa, no serão televisivo das derradeiras eleições, Rui Rio foi muito claro, apreciando o elevadíssimo abstencionismo: «existe um evidente divórcio entre o Regime e a Sociedade». Palavras suas.
A anfitreã, ignoro porquê, não o deixou desenvolver o tema. Mas a afirmação, categórica, ficou. E merece reflictamos, também, sobre ela.
O divórcio é uma forma de dissolução de um casamento, diz a lei e sabemo-lo nós. No caso, os conjuges desavindos serão, pois, o Regime e a Sociedade.
Vale dizer: a República (a forma como o Estado se organizou) e os cidadãos (no seu conjunto constituindo o povo português).
De outro modo ainda: os portugueses não se identificam com a estrutura politico-constitucional em que vivem. Maioritáriamente, é claro. Por isso, mais de metade do eleitorado nem sequer quis exprimir qualquer intenção de voto. E uma outra parcela (muito inferior em número, mas ainda assim em crescendo percentual) deu-se ao trabalho de manifestar nas urnas que dos sete candidatos nenhum lhe servia.
Perante estes factos, absolutamente incontroversos, que autoridade ou legitimidade assistem aos senadores da República para falar em nome do povo?
É que talvez ainda não saibamos o que queremos. Mas seguramente já declarámos o que não queremos...