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Vá lá saber-se porquê, hoje trago na ideia o Afonso Costa... Esse nome, esse símbolo; ou essa expressão, essa denúncia. Talvez aquele por quem mais Portugal é o que hoje choramos seja.
Em leituras recentes (concretamente, o Nobre Povo, de Jaime Nogueira Pinto), dei-me conta de alguns episódios, tão picarescos quão sinistros, da sua ruindade vivida. A seguinte comparação de JNP deve vir - ainda mais - a público.
Na sequência do movimento conspirativo de 28 de Janeiro de 1908, é sabido, Afonso Costa foi preso. Ele próprio relata o almoço do seu terceiro dia de clausura, "esplêndido", mandado vir do "Tavares por preço elevado". E a ementa - "uma omolete aux fines herbes, linguado frito com batatas cozidas, costeletas de vitela com batatas, espinafres, queijo da Serra, pão, maçã, laranja e tangerina". Mais uma pouca de amena conversa com os oficiais da cadeia, de onde saltou fora logo após o Regicídio.
Chega a República. Instala-se o Costa e o seu fanatismo, a sua crueldade. Logo em 1911, um antigo sargento, Joaquim Augusto de Almeida, é encarregado de levar duas cartas de Paiva Couceiro a dois oficiais de Artilharia 3, em Santarém. São cartas políticas, é certo, mas o portador ignora tal facto. Um dos oficiais, já adesivado ao novo Regime, entra em histeria de zelo. O resultado final: o desgraçado Almeida, um simples criado de um lavrador ribatejano, é julgado no famigerado Tribunal das Trinas e condenado a "seis anos de prisão maior celular, seguida de dez anos de degredo, ou na alternativa vinte anos de degredo em possessão de segunda classe" (ou seja, em qualquer buraco esconso do Ultramar).
Duas décadas antes, João Chagas, um dos responsáveis pelo 31 de Janeiro, fora condenado a seis anos de degredo (menos 14 do que Almeida!) pena essa, de resto, posteriormente perdoada.
Dir-me-ao onde, éticamente, se situa, em tudo isto, a ditadura e a democracia.