O pai do Zé Pinto, o Estado, coitado
Já dei hoje o meu contributo para o peditório a favor do Estado. É um dever nosso, um imperativo moral, caridade cristã, pois que mais?
Correu-lhe mal a vida, ao Estado, coitado. Gastou o que tinha e o que não tinha. Endividou-se da cabeça aos pés. Agora anda a esmolas. Ou então (o Estado sempre gostou de manter as aparências...) compra por aí umas bugigangas, coisinhas banais, a custarem pouquíssimo, e vende-as a preços exorbitantes.
Assim se vai governando, o Estado. E a gente, polidamente, faz de conta, abre os cordões à bolsa... e paga.
Em suma, meti gasolina no carro.
E, à saída da bomba, dei de caras com o Zé Pinto, um filho do Estado, o mais novo. Sempre janota, sempre palrador, sempre ladino, sempre dado a aldrabices. Sempre, irremediávelmente sempre.
Perguntei-lhe pela saúde do Pai, coitado, e ele convidou-me para um café - a pagar por mim, já se sabe. Mas aceitei. Como aceitei, também, uma partidinha de dominó.
O Zé Pinto bem se esforça, mas jamais aprendeu a jogar. Perde, pede desforra, volta a perder, insiste em nova desforra. O dia inteiro nisto, se não o contrariarmos.
Ao terceiro jogo, soltei o dichote...
- A gasolina do teu Pai, cada vez mais cara, não?
- Nada disso. Estamos agora é num programa de redução de sinistralidade nas estradas, através do aumento dos preços do combustivel...
- Não me digas!
- Pois digo! Com resultados únicos. O Pai vai amanhã para os Emiratos Árabes, dar uma conferência sobre o método. Porreiro, não pá?
Foi quando percebi, entre a conversa, o Zé Pinto tentava trocar as pedras do dominó, em busca da mais conveniente...
- Porreiro, Zé Pinto! Mas pára lá com a batota. Se fores capaz, é claro.