Realidades que a História não deixa esquecer
Corre este ano uma década sobre o termo do processo célebre das FP/25, iniciado em 1985. E, como é sabido, prolongando-se o bastante para ser despoletada a bomba da prescrição, além da inenarrável amnistia deliberada na AR, por iniciativa do então Presidente Mário Soares...
O que visaria ele com esse gesto de benemerência e de magnânimidade? Resumamos os factos, apontemos o essencial das suas consequências.
As FP/25 assolaram o território nacional entre 1980 e 1987. Procuraram, não com êxito absoluto, a solidariedade dos movimentos de que eram fotocópia. Sabe-se apenas que terão recebido algum apoio da ETA e acolhimento em Moçambique, onde alguns revolucionários se refugiaram.
No mais... 13 homicídios, 66 atentados à bomba, 99 assaltos à mão armada, a bancos e a viaturas de transporte de valores. Confrontados com a sangria, os portugueses não acreditaram nas intenções salvíficas das FP. Sem embargo - nomedamente através do seu Manifesto ao Povo Trabalhador - a organização terrorista insurgia-se contra a revisão da Constituição da República de 1976, não se conformava com o abandono da via socialista e da Reforma Agrária, intimidava as instituições e apelava, abertamente, à insurrecção popular.
Mas, ao contrário do que se pensa, o Código da Estrada Política dá sempre a prioridade à Esquerda. E o que para os outros está tipificado como crime, para estes corajosos rapazes dos atentados - é aventura e ideal generosíssimo... Só.
E, por tal, um vulgar assalto a um banco denominava-se, eufemisticamente, uma operação de recuperação de fundos. E por aí fora...
Agentes das forças de segurança, empresários, os chamados arrependidos (quem entra na teia, jamais pode sair...), um responsável por um estabelecimento prisional, alguns populares apanhados entre fogo, fazem o somatório das suas vitímas, mortais ou não.
Refira-se ainda que as absolvições foram muitas: não porque os crimes não houvessem sido cometidos; apenas pela impossibilidade de atribuir uma autoria a cada um deles. E, ironia do destino: o grande condenado em todo este processo foi o Juiz de Instrução, Martinho de Almeida Cruz, obrigado a fixar-se em Bruxelas, ante a enxurrada de ameaças caída sobre ele.
A foto acima invoca o início do julgamento das FP/25. Todos se devem lembrar daquelas feições absolutamente tranquilizantes. E dos seus punhos erguidos. Um gigantesco manguito aos portugueses, em geral, e, particularmente, às vitímas das suas façanhas e respectivos familiares.
Em algum País civilizado o caso FP/25 teria um desfecho assim?