Porque é a "crise"
É sabido, todos vamos sofrer. Todos sofremos por antecipação. Mas entre o "ser" e o "vai ser", talvez restem uns momentos de sossego. Não digo de paz, na exacta medida em que sempre contrariei o aforismo "paz e sossego".
Não, a guerra continua. Essa guerra política, nacional, creio mesmo, fulcral. A paz é mentira e a ocasião óptima para uns intervalos de sossego.
É onde se levanta a companhia inexcedível das gaivotas. Os gatos alados da cidade, um miar em piado, estranha forma de ronronar. Sobretudo à beira-rio.
As invernosas tarde frias assim o dizem. Na cidade, não longe do mar. Com migalhas de pão e hábitos enraizados. Elas não despegam, em todo o volume das aves de olhar penetrante. Alguém atentou já na sua beleza?
As gentes ribeirinhas sabem-no. Onde se deixam uns bocados de comida para os gatos, ficam também umas sobras para as gaivotas. Porquê, se ninguém se lembra dos pardais?
As gaivotas chegam-se às nossas portas. Não se tomam de pânico, em fuga. Alam-se pausadamente, em circulos que vão acima e abaixo. Não fora a pressa da vida, ensinaria uma qualquer a um aperto de mão. Tais os dotes da sua beleza.
Ingressam no interior até muitos quilómetros da costa. Sobem o quotidiano dos rios e das suas margens. Quão dificil é passar sem as gaivotas!