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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Bem vindos ao "Maravilhoso Reino de Penedono"

João-Afonso Machado, 08.01.11

O convite é da Câmara Municipal, não meu. Estamos na terra do histórico Magriço, Álvaro Gonçalves Coutinho, um dos Doze de Inglaterra. Acima do Tempo, no Reino Encantado, recantos, sons e ausência deles, em pleno planalto sul-duriense. No topo das muralhas do castelo roqueiro, olhando a História (ou, mais precisamente, o Futuro mais incerto de sempre).

Num gesto de rara amabilidade, o Chefe da edilidade, Carlos Esteves, encontra-se com a Real Confraria de Santo Humberto (hoje já com resultados obtidos na imperiosa missão das perdizes...) em jantar comme il faut na Estalagem de Penedono.

Confratenizará connosco - com minhotos, tripeiros, beirões, bairradinos, ribatejanos... E com as respectivas Famílias, senhoras e descendência.

E amanhã, tal como esta tarde, continuaremos a explorar e a aprender com este Portugal que se mantem íntegro, muito mais no dito (depauperado) Interior do que no Litoral.

Para outros de bom-gosto, não há como evitar a publicidade: venham conhecer esta Vila; tragam a arma e dêem um passeio nos terrenos da Zona de Caça Turística de Coutada Real Penedono. Sem esquecer a subida ao castelo, onde o uivo do vento, o ar gélido e a beleza circundante são apenas um severo recado, e uma palavra de alento, do imortal Magriço.

 

Linha do Norte

João-Afonso Machado, 08.01.11

...

Há rostos nos apeadeiros. E se conseguíssemos memorizar todos quantos se cruzam connosco diariamente? Adeus, expressões de nunca mais!

Adeus, adeus, foi apenas um segundo no cosmos este nosso encontro. Azula-se o rio, enorme, preguiçoso. Imóvel. Uma presença certa na próxima viagem. E em todas mais até à derradeira.

A cidade renasce, rejuvenesce. Não findara ainda. E sobre os escombros dos edifícios – as barracas, as indústrias – de outrora, surgiu em arquitecturas ousadíssimas, toda de pináculos, ângulos difíceis e assimetrias. Junto às estrelas do firmamento, os muitos quilómetros da ponte nova. O labirinto de acessos, o rio a refrescar-lhe os pés, a verdura dos relvados marginais… Estranhas ligas metálicas e um arrazoado de transparências recobrem a gare da primeira paragem. Depois sim, entre prédios caducos e visões longínquas das gaiolas humanas dos subúrbios, será, definitivamente, a despedida da cidade maior.

O comboio embrenha-se entre canaviais. Sobrevoam-no as gaivotas e o rio vai com a barriga dilatada como um mar. A margem de lá é apenas imaginável.

Depois do futurismo dessa primeira paragem, uma nova aceleração e começam a escassear os paralelepípedos ao alto, atulhados de gente. O ar é mais solto, se não contarmos com o abafo dos viadutos, sombras que enegrecem o comboio, a auto-estrada margina-o, acena-lhe adeuses como uma excursão de escolares, cantante e divertida. Negríssimas nuvens no horizonte, chuviscos recentes e o sol como um furão, trazendo outro colorido ao cenário. Para quê, afinal? Pilhas de contentores – ei-los de novo… - outra dose de edifícios decrépitos colocam-nos entre baias, cheiramos a água do rio mas visualisamos apenas as ferrovias de transporte de mercadorias. Ainda não é desta que nos livramos dos arredores da grande metrópole.

Por isso o comboio galga apeadeiros, sinais luminosos, campainhas. Chaminés fabris como velas em bolo de aniversário. E a miséria, sempre a miséria dos prédios decadentes, a promiscuidade da indústria envolta nos mesmos lençóis das habitações, um formigueiro de camiões. Há quem viva assim, impressionante conclusão.

Espreitando à esquerda, apontando à direita, são uns tantos quilómetros de semelhante miscigenação. Obra do Homem, inspiração do Diabo.