O que hoje falta
Houvesse nas farmácias qualquer xarope contra a tristeza e os males da ausência... Algo que pintasse de cores sadias as tardes. Mesmo sem trazer o calor, apenas uns raios de sol, umas colheres de azul. Sem, sequer, apaziguar os frios soprados pelo vento. Mas erradicando, levando para muito longe, a neurastenia, a saudade.
Então convergiriamos todos para o rio. Se o robalo entrou, ou não, logo se veria. No vagar de umas horas inteiras para qualquer solha ou enguia... Debatendo, elevadamente, a porca da política, a derrota ao cabo de 23 jogos, o monarquismo do André, a vizinha da Cantareira que se escapou já nem sei com quem.
E em competição, também. Porque não é qualquer um que alcança, no lançamento, o caneiro, a espinha dorsal do rio. Nesse fundo areado, todos sabemos, onde o peixe se passeia nas correntes e os anzois poisam sem a vegetação submersa se apropriar deles.
Conseguríamos fazer da invernia mornas primaveras. Declarariamos a morte da tempestade, do silêncio, do perverso acizentado. E jamais alguém teria escrito: Foste em tarde calma, / essa a da tua ida, / num único chorado momento / do início do teu sono / no sem fim do Tempo.