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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Rendimentos de tributação impossivel

João-Afonso Machado, 03.01.11

Seraficamente, o País transtornou-se. É agora, confessam os organismos públicos, mais perigoso. Não obstante a Estatística - essa macaca! - indicar um decréscimo da criminalidade. Porque talvez já não se apliquem tantas sacholadas na cabeça dos prevaricadores da água de rega...

Em resumo: debatemo-nos, hoje em dia, com uma realidade nova - o crime organizado. Mas não seria de prever, legitimamente se questiona?

Responda-se como melhor aprazer a cada um. Para quem avance o argumento da crise - da pobreza que nos consome - como explicação da violência que a Comunicação Social avassaladoramente divulga, fique bem presente não residir aí a causalidade interpretada pela Polícia Judiciária. A nossa PJ - empenhada, trabalhadora, incompreendida, desfalcada de meios de actuação.

O fulcro do problema centra-se no - soit disant - associativismo criminal. Cada vez mais operante e vocacionado para objectivos muito claros: os postos de abastecimento de gasolina, as agências bancárias, as ourivesarias... É ponto assente que se transacciona amanhã, em Espanha, o ouro roubado hoje em qualquer pacata vilória nossa. Sinal de que as ligações estão estabelecidas e funcionam.

Duas conclusões retiro desta factualidade, de todo incontestável.

A primeira aponta o dedo acusatório aos poderes públicos: provinciana e eleitoralmente preocupados com os direitos das minorias (refiro-me à bandeira erguida pelos militantes do - por extenso - ora legalizado casamento de pessoas de diferente orientação sexual), de mindinho esticado em finesses de barbeiro na abordagem da legislação penal e processual, assim tão sensiveis, - os poderes públicos esqueceram a segurança de... toda a gente.

Tentando nublar o escândalo de Mausers com cinco décadas de uso, adquirindo Glocks - uma opção oportuníssima, de resto - lá chegaram, atrapalhadamente, as pistolas, enfim. Mas sem os coldres respectivos e sem a imprescindivel preparação dos agentes para o seu uso. Isso é dos jornais e não foi desmentido. Bizarrias dos nossos governantes.

E a segunda assusta ainda mais. A criminalidade que está em qualquer viela onde se vendam objectos de valor, fácilmente transaccionáveis, é obra de profissionais, gente violenta, capaz de tudo, destituída de escrúpulos. Nacionais, ou não. Gente que faz dos assaltos o seu modo de vida.

Um modo de vida fácil, rentoso (muito mais do que o trabalho honesto) e com riscos mínimos. No máximo da adrenalina. A modos que um desporto radical.

Tão enebriante como a travessia da Ponte Vasco da Gama a 200 quilómetros por hora, talvez em contramão... Sem a polícia a impedir.

 

 

Linha do Norte

João-Afonso Machado, 03.01.11

A partida é uma mistura de cores e movimentos, um mundo pela frente e o adeus talvez esquecido. Estreita-se como um túnel o corredor que são os carris. Mas há mais linhas a entrecruzarem-se. E as carruagens esquecidas, imobilizadas e poeirentas. Quem sabe?, mortes irremíveis. Vai-se abrindo o espaço no amuo das casas velhas, decrépitas, a virarem-nos as costas. Ou dos muros altos, de pedra secular, onde estiver o cimento está a policromia dos grafitis. E então sabemos que a vida urbana passou por ali, desceu cá abaixo, à noite decerto. O comboio cavalga já em razoável velocidade.

O cenário também cresceu. De um lado, o mistério de milhares de vidas que se amontoam em prédios, prédios e prédios. De milhares e milhares de quotidianos indiferentes ao passar de mais um comboio, todos os dias é assim, quem há-de pensar em quem? E, no entanto, somos nós o presente, esse momento generalizadamente compartilhável. O que se passará para lá daquela janela? (Dessa mesma, não da mais além...).