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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Com a devida vénia, Senhor Bastonário

João-Afonso Machado, 31.01.11

Com assinalável regularidade, o Senhor Bastonário da Ordem dos Advogados, Dr. Marinho Pinto, deposita, em entrevista dominical no JN, as suas impressões sobre o andamento da vida forense e judicial. Desta feita, debruçou-se sobre uma petição popular, conduzida no Correio da Manhã, versando a penalização do enriquecimento ilícito dos titulares dos orgãos de soberania. Indispõe-no a alegada presunção de culpa incidente sobre quem ganha manifestamente acima do previsivel, face aos rendimentos declarados.

Justapõe as suas razões de discordância. Não as rebato.

Assinalo, somente, uma palavra de revolta há muito a dever ser largada, por exemplo, contra idêntica presunção a atingir os legais representantes das empresas (singulares ou colectivas), no concernente às dívidas fiscais. Ou seja, contra o maquiavelismo estatal dirigido à produção/serviços que não cumpre as obrigações tributárias porque - na maioria dos casos - assim consegue manter os ordenados do pessoal em dia. Isto é: os postos de trabalho dos seus empregados.

Mas tal não valia este comentário. O mais importante são as pedradas para o ar e as cabeças assim visadas atingir. Verbo gratia(o espaço rareia): os «advogados mediáticos»? Os «polícias» (entendo: os funcionários das forças de segurança), outrossim?

Vale-me o à-vontade de quem não tem ligação, nem influências, junto dos poderes económico ou político. E de quem conhece as dificuldades com que se debate a advocacia provinciana.

Por muito dura que seja a realidade - a nossa, de quem não tem voz nos jornais, seja pela via dos negócios e da partidocracia, seja pela alternativa dos cargos corporativos - por muito dura que seja a nossa realidade, dizia, o caminho é outro. Diverso de uma eventual corrente populista, divindindo os Colegas entre os partidários do Robin Wood e do sheriff de Nothingan. Por variadíssimas razões, a principiar na deontologia, até findar na nulidade dos resultados visionados.

 

Um matinal burburinho de caserna

João-Afonso Machado, 31.01.11

Com a manhã a meio, a multidão subia a Rua de Santo António. Militares de Caçadores 9 e de Infantaria 10 e uns tantos praças da Guarda Fiscal. comandados por um capitão, um tenente e um alferes. Rodeavam-nos os curiosos do costume, gaiatos barulhentos, a indigência local...

Lá no topo, junto à Igreja de Santo Ildefonso, o major Graça esperava os insurrectos com 400 homens da Guarda Municipal, em linha. Ordenou a primeira descarga, os republicanos ripostaram. Nova descarga e a debandada geral, rua abaixo, por cima de dez cadáveres - meio por meio, entre militares e mirones espingardados.

O refúgio dos revoltosos no edifício da Câmara Municipal (onde às 7 horas haviam proclamado a República...) nada adiantou, perante a ameaça da artilharia da Serra do Pilar. Ao meio-dia tudo cessara já.

O Partido Republicano foi o primeiro a condenar veementemente a aventura, dela se demarcando em absoluto.

A rua do tiroteio viria a ser denominada 31 de Janeiro. Mas só nas placas. Para os portuenses continuou sempre de Santo António.

E este burburinho de caserna, um matinal desarranjo intestino-militar, depois de 1910 ver-se-ia alcandorado a data histórica. Pelos mesmíssimos ratões que dele se alhearam e afastaram: os Teófilos e os Costas que definem a República. Os avós dos ético-maçons dos nossos dias.

Uma velhada decadente que festeja o 31 de Janeiro como se sufraga a si mesma.

 

 

Cento e três anos depois

João-Afonso Machado, 31.01.11

Não me seria possivel deixar a data passar ao largo sem um comentário, um gesto de inconformismo. Mataram o Rei, mataram o Príncipe Real, e depois a turbamulta foi ao Alto de S. João, como se numa marchinha antonina, em volta da campa dos assassinos. Enquanto Portugal inteiro chorava, a medo, os Mártires...

Mas urgia ir além dos factos, de todos conhecidos. Trazer mais ao debate. Foi quando me lembrei do grande pensador monárquico, o Dr. Mário Saraiva, já falecido, a da sua obra literária, por mim religiosamente guardada. E, simultâneamente (talvez por um contacto recente como o seu bisneto António Eça de Queiroz, com quem partilho informação dispersa, correspondência aos poucos descoberta), do genial criador do Conselheiro Acácio e do Conde de Abranhos.

Um revolucionário, no dizer do pensamento oficial.

Eça, é sabido, morreu em Paris em 1900. Quando a superioridade intelectual e política de D. Carlos era já visivel e a melhor inteligência nacional nela apostava decididamente. Queiram, por favor, lêr Oliveira Martins, Ramalho, Fialho de Almeida, Luis de Magalhães... E Eça, enquanto esculpia os ditos Abranhos e Acácios, nas suas Notas Contemporâneas: «Começa este reinado no momento em que, pela dispersa hesitação das inteligências, pelo incurável enfraquecimento das vontades, pela desorganização dos partidos, pela inércia das classes - o rei surge como a única força que no País ainda vive e opera».

Referia-se, é claro, a El-Rei D. Carlos e à agitação em volta do Ultimato, coincidente com a Sua subida ao Trono.

Palavras do Dr. Mário Saraiva: à Monarquia chega-se tanto pela Razão como pelo coração. É, coração e Razão, de mãos dadas, valem uma Nação. Valem o fim da mesquinhez politico-partidária. Uma Ideia e uma Fé novas.

 

O sapatal

João-Afonso Machado, 30.01.11

O episódio foi-me contado pela própria filha, muitos anos depois. Ele não tinha mais de metro e meio, um enorme sarilho se havia de parar a motorizada, com os pézitos a tactear em busca de apoio... O chapéu atirado para a nuca e as bochechas sempre vermelhuscas, ora do frio, ora do remédio para o frio.

Ofício: sapateiro.

Uma vez travou-se de razões com a vizinha e foi o diabo. Aquela lâmina de gume tremendo, com que recortava as solas, entrou na carne da desgraçada e por pouco não a retalhava, tantos os golpes. Embora a sangria não fosse fatal, a gravidade do crime impunha a fuga por tempo indefenido. Até que tudo acalmasse.

Durante quantas semanas se acoitou o sapateiro neste pombal? Ignoro. Sei apenas sequer haver sido julgado... E que fome não passou, fornecido diáriamente pelos filhos de pão e vinho, mais as indispensáveis vitualhas. Fossem elas umas sardinhas, umas espinhas de bacalhau...

Nunca se soube. O pombal, qual templo pagão, rodeava-se então de mimosas e do mutismo da floresta. E os únicos visitantes conhecidos das pombas eram as cobras e as corujas.

Entenda-se: lidava-se com a ilícita procura de ovos e de borrachos, sendo inimputável a natureza. Mais dificilmente se aceitaria a presença humana acobertada na humidade e nos detritos acumulados no seu interior. O sapateiro, não obstante, ali viveu até ao fim da tempestade na freguesia. Cruzando-se com ninguém, salvo os filhos que o visitavam e lhe levavam alimento. Só depois, já na bonança, veio a tabernice da basófia e da surpresa. Pois se a própria vítima aceitara o seu pedido de desculpas...

 

É só fumaça!...

João-Afonso Machado, 30.01.11

A lavoura, do outro lado do vale, já não é grande coisa. Ficaram umas leiras e umas covas de coelho, qualquer perdiz retardatária e, no seu tempo, os ouriços das castanhas. Mesmo o espigueiro é mais uma jarra de flores, à entrada do eido, e as cortes albergarão, quando muito, alguma galinha à espera da degola.

Mas os donos não largam a casa, embora há muito residam na cidade. E, estranhamente (dirão), não é na cidade que optam por passar o fim-de-semana.

Tão bem os compreendo! Onde, senão na nossa terra, se come a melhor feijoada e se aspira o frio da tarde, a lavar os pulmões? Entre os pinheiros, saltando a ribeira, travessando o vale... Para depois esticar as pernas junto à braseira, enfim, já o sol se escapa no horizonte. E, pela nossa frente, o serão ainda, meia-dúzia de cobertores a confortar-nos a noite e uma manhã com os rapazes, no monte, a fazer horas para a rojoada.

O fumo em frente é benfazejo. Fácilmente lêmos o seu apelo, não há lar sem lareira. Por isso mesmo, mil vezes antes o frio do que uma segunda-feira.

 

Justiça!

João-Afonso Machado, 29.01.11

Clamou, em 1908, o Conde de Arnoso - justiça! Jamais feita, às vítimas do Regicídio. Mas persistem outros meios, para além da paródia judicial. Por isso, uma vez mais, na data do crime, os monárquicos portuenses celebram uma cerimónia religiosa, na Igreja dos Clérigos, lembrando o Portugal assassinado.

Decorrerá às 19 horas do próximo dia 1 de Fevereiro.

Como sempre, os universitários fieis - tantos são! -comparecerão. Será uma noite de tristeza, pelo Passado impune, e de esperança - pelo Futuro sem fim.

 

Súbitamente

João-Afonso Machado, 29.01.11

Antes ainda de 1974, o mundo dava uma cambalhota para o operariado textil do Baixo-Minho. A indústria ia de feição, a inflacção era um palavrão desconhecido, o nível de vida subia.

E a Toyota entrava triunfalmente em Portugal!

Sobretudo com o modelo Corola 1200. Azul-bébé ou vermelho-agudo. Para todos.

(Não exactamente com o da foto, um Deluxe).

Reminiscências. Na época, máquinas galopantes. A carestia era pertença do Passado, e triplicavam-se as moradias, onde hoje choramos, saudosos, as bouças e as leiras. Mas sem recriminações.

Surgiram construções de gosto duvidoso, chez nous, vacances. Propagaram-se os cães - invariávelmente os Lobo da Alsácia. E os Toyota também.

Do Cávado para cá, a paisagem mudou. Tragada por estrangeirismos: uma arquitectura made in France, diziam eles; uma guarda canídea made in Germany; e o carroço made in Japan.

Assim chegámos a hoje....

 

 

Coelho ou Bugs Bunny?

João-Afonso Machado, 28.01.11

O homem, afinal, sabe-a toda. Tolo? Tolos somos nós. Fez a sua encenação, agitou a suástica, imitou o Big Ben. Candidatou-se à Presidência desta República - que não o desmerece - e multiplicou os disparates em campanha.

Depois veio o resultado, mano a mano com o nosso partido albinista. Surpreendentemente.

E, com o resultado, veio também a Comunicação Social...

Fatalmente, o homem apresentou-se à entrevista televisiva. Com uma gravata da moda, o nó quase bem dado. Num falar de onde tinha fugido todo o surrealismo, restando apenas o sotaque, aliás simpático.

Sobretudo - frise-se - o discurso era outro. Os projectos também. A neblina dissipou-se, Manuel Monteiro e Baltazar Aguiar eram um fumo longínquo. Agora é o Coelho e a sua meta: o Governo Regional. Santa paciência, meus senhores!, parecia ele dizer, como se roesse a cenoura à porta da toca, home, sweet home...

Do se passado só ficou, ao que consta, o emblema do PCP sobre a lareira da residência.

(- O PND-Madeira não é um partido reaccionário - afirmou, à laia de aviso à navegação...).

Realmente, a Política não se ensina. Aprende-se. Nem deve ser levada a sério. Apenas como um fait-divers.

 

 

António Barreto, sempre ele!

João-Afonso Machado, 28.01.11

Consta ser socialista. Será. Para mim, é, sobretudo, o politico mais sério e realista, das raras excepções que não desonram os portugueses. Daí a expectativa com que me sentei para mais uma Grande Entrevista de Judite de Sousa. Mesmo porque, obviamente, a conversa incidiria sobre as Presidenciais. Vale dizer, sobre o regime republicano.

Como de facto. E, palavras suas, o cargo em questão é um factor perturbador, quando devia não ser, do equilibrio politico-institucional. Quando devia não ser...

Desenvolvendo o seu raciocínio, António Barreto frisou a fortíssima união de que o País carece, e da qual está impedido, por via da elegibilidade da Chefia de Estado. Nomeadamente, neste crucial momento de sobrevivência, a congregação Presidente / Governo afigura-se-lhe imprescindivel, mas torpedeada pelas querelas partidárias envolventes. Torpedeada, ou seja, levada ao fundo do mar. Afogada.

Barreto defendeu ainda o modelo constitucional parlamentar. Muito bem. Uma opção já experimentada na 1ª República, com um Presidente eleito por um Senado. Conhecem, lembra-se dos resultados? Têm presente o produto do império dos Partidos?

Sobre o tema, a sua afirmação final é, no mínimo, premonitória: se não houver uma grande reforma, haverá uma revolução.

À atenção de cada um... E de todos.

 

Ainda as eleições

João-Afonso Machado, 27.01.11

Só hoje tive acesso, através da Imprensa local, aos resultados eleitorais na freguesia da minha gente, em V. N. de Famalicão. Uma mancha predominantemente rural, cuja população, se não estiver no desemprego, se dedica, sobretudo, ao comércio e aos serviços, na sede do concelho. E uma Junta administrada pelo Partido Socialista.

Ei-los, então, num universo de 1475 inscritos nos cadernos eleitorais: Abstenção - 528; Cavaco Silva - 521; Manuel Alegre - 170; Fernando Nobre - 120; Votos brancos - 40; José Manuel Coelho - 27; Defensor Moura - 25; Francisco Lopes - 24; Votos nulos - 20.

Comentários, eventualmente pertinentes, para além do que é óbvio: neste bocado minhoto, o voto em Coelho traduz um protesto similar ao dos votos em branco ou nulos; a opção Defensor resulta da nossa (relativa) proximidade a Viana do Castelo, de onde o candidato provém.

O mais está à vista. Com o acrescento, apenas, de que, em eleições autárquicas, os partidos abstencionista, albinista ou nihilista quase não têm expressão.

Porque será assim?

 

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