Num futuro breve
« (...). Mas estamos ainda no capítulo da historieta medonha. A Fernanda, um filho e um companheiro que não a quis e a deixou; e, mais recentemente, um assento de secretária, o seu ganha-pão, a sopa do menino, tudo sumido pelo raio das falências. Carlos é um hino à Solidariedade, a encarnação da Revolta.
- Malandros! Vigaristas!
E propõe-se esfolar quem a Fernanda achasse por bem à justiça e apaziguação que lhe são devidas. Ela redargue com proposições de bom-senso, os tribunais tomaram conta do assunto, o busílis está em que os tribunais são um caracol que se baba devagarinho, pegajosamente, sem sair do sítio. Tem estilo a Fernanda! E se...
- É da Monarquia, de um Rei que ame o seu povo, que todos precisamos!
O Carlos abocanha a ideia. A Fernanda não oculta a sua curiosidade pela bizarria da ideia. Um rei! Isso ainda há?
De uma silhueta de um guerrilheiro dos trópicos foge um sorriso luminoso, transfigurante. Lança a perna a um dos bancos do jardim e chama-a a si, irresistível como um messias.
- Onde estiver o Rei há o carinho e a dedicação que a ninguém é escusado.
O Rei, a Casa Real. Uma Família que é de todos, que a todos se dá e que sustém o farto conjunto de famílias que dá corpo à Nação».
(Foi Quase, DG Edições, 2006)