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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Presidenciais - os debates (VII)

João-Afonso Machado, 24.12.10

Grande susto para Cavaco Silva! Em despreocupado passeio no debate público, seguindo o conselho do seu médico de família - uma voltinha após o jantar, para fazer a digestão - eis senão quando Defensor o ataca nas canelas. Sem razões para tal, sem motivos quaisquer, Cavaco sequer o acirrara. Mas não é que antigas questões bancárias, investimentos pessoais, sofisticações financeiras, se vêem, repentinamente, abocanhadas e arrastadas entre rosnadelas ameaçadoras?

Cavaco reagiu com calma, sempre deixando bem clara a sua indignação. Defendeu-se escorreitamente e, sem perder a compostura, foi pondo Defensor no lugar que lhe compete. Que afinal é nenhum!

Bem podia o distinto vianense fazer da sua campanha um manifesto entusiasmado pró-regionalização. Promovendo, por exemplo, o ressurgimento das nossas provincias de sempre, do Minho ao Algarve, tendo por fronteiras o que as diferencia geográficamente, em vez da régua e do esquadro, lapizando no mapa os caprichos dos poderes administrativos.

Assim, escangalhou-se todo. Porque se há algo a que Cavaco é imune são as negociatas. Numa certa e curiosa semelhança com Salazar, que todos sabemos ter morrido pobre, embora sempre contemporizador com os grandes magnatas. Com os grupos económicos, na terminologia da era cavaquista. Austeros em casa, discretos na rua e liberais quanto às vidinhas dos que os rodeiam. Por trás de homens destes, nunca falta uma Maria...

Em suma, outro debate a nada mais levando além do reforço da incontornável ideia - preciso é mudar o regime.

 

Para o ano temos Circuito da Boavista?

João-Afonso Machado, 23.12.10

Trata-se de uma das mais recentes polémicas dentro da edilidade portuense. Em termos muito gerais, a Oposição manifesta-se contra este evento, já completamente popularizado. Porquê? - Porque a crise não consente, na sua perspectiva, gastos excessivos, orçamentalmente pouco explicáveis.

Sabemos, no entanto, duas verdades. A primeira é que Rui Rio é um homem de contas certas; a segunda é que a autarquia é, financeiramente, das mais sólidas. Daquelas que pagam, digamos assim.

A favor da realização do Circuito militam duas razões: o interesse em manter bem viva esta marca turística da cidade; e os números - conforme o responsável do pelouro, a um investimento de €700.000,00 corresponde um retorno de 14 M€ (dos quais, 4 resultam da permanência na cidade da caravana da prova WTCC).

Bom, certo, certo é que o Porto enche, o povo aflui à Boavista e à Circunvalação e é um fartar de vender cervejas e febras. Fora o que não se passará nos hoteis - bons ou menos bons - onde se acolhem as muitas centenas de estrangeiros a visitar-nos então.

 

Presidenciais - os debates (VI)

João-Afonso Machado, 22.12.10

Foi um combate leal, há que reconhecê-lo. Disputado taco-a-taco. Com um final, adiante-se já, favorável ao espadachim menos gordo e mais novo. Como é natural.

Fernado Nobre esgrimiu como lhe era mais fácil. Desde sempre afastado das lides partidárias, invocou as falências, a pobreza e a fome, o desemprego, a ausência de perspectivas para a juventude, e foi feliz nessa primeira estocada - imputou responsabilidades a toda a clique do Poder político.

A estocada acertou em cheio no alvo.

Manuel Alegre deu a cara. Assumiu as suas responsabilidades, enquanto deputado, homem do aparelho estatal. E não escondeu o seu orgulho por isso. Num hábil golpe de mão, ripostou advertindo sobre o "dever pedagógico e democrático do cuidado com o discurso"... Vale dizer: doeu, mas aguentou.

Logo após, viu-se aflito ante o epíteto, lançado pelo antagonista, de "político profissional". Manteve o sangue-frio, porém. E suportou outros ataques, serenamente, - desde logo a constatação de que "perigosa é a situação social a que chegámos". Sempre sem dar parte de fraco. E ripostando com as ameaças pendentes sobre o SNS. Insuflações de galo, é claro, a que o adversário, muito tranquilo, ripostou apenas - "não vá por aí".

Nesta aflição, pela primeira vez, Alegre náo dispôs de espaço para atacar ao lado, visando Cavaco.

Ao terminar do duelo, o Épico esqueceu a temática do Estado Social e tentou agarrar-se à História e à Cultura, missões presidenciais.

Em arremetida contundente, Nobre, ainda poupadíssimo dos pulmões, e puxando pelas suas medalhas (ou pela sua "experiência de vida"), auto-proclamou-se um árbrito isento e livre e invectivou o eleitorado a não se acomodar, a ousar mudar. Fulminando Alegre com um derradeiro - "Vocês são livres!".

Pois creio que somos. Está tudo em aberto. Alegre caiu com elegância, não se diga o contrário. Mas não chega. Ou melhor: a manter este regime inimigo de Portugal, Nobre hoje marcou pontos. Só isso.

 

 

 

Gente realmente importante

João-Afonso Machado, 22.12.10

Têm cara e não têm subterfúgios. Nem medo. São como são e assim se apresentam. Há muito procurava uma oportunidade de fotografar o Manuel do Laço, o mais furioso boavisteiro da galáxia e arredores.

Foi hoje. Infelizmente, na triste data das exéquias de Pôncio Monteiro, outra personalidade de peso na cidade (duriense de Covelinhas, Régua, um dia desceu o rio e deixou-se estar pelo Porto... e pela TV, onde o seu humor, o seu bairrismo, faziam razias, enquanto granjeavam o respeito dos seus opositores: Dias Ferreira não faltou à derradeira homenagem; e, da capital, outros mais, decerto).

Também Manuel do Laço compareceu. Esquecido da arqui-rivalidade entre os dois grandes clubes, o FCP e o Boavista.

Pedi-lhe autorização para o retrato. Era para que jornal?, inquiriu, já muito lidado com estas abordagens. Não, era para um blogue; para a Internet. Pois claro, estivesse à vontade; e ensaiou a pose.

No pino do calor, na mais cortante invernia, Manuel do Laço não tira o laço alvi-negro. Como os seus sapatos de sempre, o côco, o colete, um axadrezado inteiro, da cabeça aos pés.

Há nele agora, talvez, uma expressão triste, espelho do seu Boavista, campeão nacional presentemente vítima do infortúnio. Nada que faça perigar a sua fidelidade. A sua verticalidade. Está ali para lutar pelo que acredita e gosta, pela sua dama de sempre. Manuel do Laço não é um mandador de bocas, nem um treinador de bancada. É um militante do que a sua alma guarda.

Pertence à cidade. Despede-se de um estranho com um caloroso desejo de boas-festas...

 

Presidenciais - os debates (V)

João-Afonso Machado, 21.12.10

Cavaco Silva e Francisco Lopes nada debateram. Limitaram-se a cumprir calendário ou, se quiserem, a desempenhar o seu número, à hora ajustada para um espectáculo pobre, monótono, já visto e revisto.

Como seria de esperar, cabia a Lopes o papel, mais agressivo, de interpelar, provocar, o adversário. Este, por seu turno, retorquiu com um quase silêncio de quem nenhuma atenção presta ao gaiato irrequieto e barulhento.

Foi isto. Com Lopes nas eloquentes esferas do impossivel, pregando contra a nossa submissão "à voz dos mercados". Ele, Lopes, uma vez eleito Presidente, logo trataria de puxar as orelhas aos meliantes da alta finança internacional...

(E se a gente votasse Lopes, só para gozar o pratinho, depois?).

Já Cavaco vestiu as roupagens professorais e debitou algumas evidências - para toda a gente menos, talvez, para Lopes. Jurou fidelidade às PME's, repetiu - repetem sempre... - a estafada mentira do presidente de todos os portugueses e, perguntado se era, ou não, favorável à consagração constitucional do princípio da justa causa de despedimento, agiu na sua peculiarissima forma de fugir às dificuldades. Não respondeu - descaradamente, não respondeu. Era matéria dos partidos, da AR, nada sobre que um candidato presidencial se deva pronunciar!

Venham os próximos. Nunca mais é Janeiro. Este show já deu o que tinha a dar.

 

Um OVNI na Fnac

João-Afonso Machado, 21.12.10

Foi visto por muita gente e, para os cépticos, aqui deixo o indispensável registo fotográfico. Entrou num zzzzz quase inaudível, exímiamente conduzido, tal a multidão que atravessou incólume.

Provocou alguns desmaios de senhoras idosas. Gerou-se mesmo certo pânico. Um ex-combatente dispôs-se ao realistamento, não sem antes bradar

- Às armas!!!,

julgando tratar-se de uma invasão e empunhando uma consola, como se de uma moca se tratasse.

E, afinal, o OVNI pretendia apenas conhecer os nossos bizarros hábitos natalícios. Comandava-o uma jovem nauta, muito desembaraçada e nada desengraçada. Efectuou mais umas piruetas, a pedido, subindo na vertical, voando a centímetros do chão, ziguezagueando, enrolando-se em loopings fantásticos. Até aterrar, mansamente, em plenos sonhos da adolescente, cujo sorriso repetia, incansável,

- Bem-vindo!, bem-vindo!,

assim ajudando a quebrar o gelo, porque os adultos, não obstante todos os sinais de cortesia, agarravam-se aos bolsos, às carteiras, não fosse tratar-se de uma patranha qualquer, uma rasteira aos seus parcos orçamentos de Natal.

Mas não, nada de armadilhas ou atentados. O quadricóptero (assim disse a comandante chamar-se a sofisticada nave) vinha de um planeta pacífico, curioso, investigador. Vinha por bem, apenas receoso dos chineses e dos FMIanos.

Recomendámos-lhe, por isso, a maior prudência nesta sua estadia em Portugal.

 

O dia menor

João-Afonso Machado, 20.12.10

Julgo que é amanhã. Um dia minorca, muito menor do que o poder das máquinas sobre nós. Subjugados à porcaria dos computadores, essa rasteira, essa traição, esse canto de sereia, uma facilidade imensa e encravada. O mesmo grito de raiva e rebelião engrossa o protesto contra os afins. Máquinas fotográficas, imagens e toda a nomenclatura que me tira o sossego e me afasta da Paz: links, posts, tags, feeds, um estrangulamento de anglicismos (anglicismos? - quem dera: inglês imposto, sim!) e palavras de que a alma não é feita, e eu estou farto. Amanhã o sol acorda tarde e deita-se cedo. O sol sabe muito mais, mesmo dando de barato não necessitar de emprego. Mas a escravidão - nunca, em caso algum. Sobretudo quando o negreiro é uma máquina, ou são os seus caprichos.

Volto ao tempo da tinta permanente. Depois de amanhã, os dias crescerão em luz. Hei-de perguntar à secretária lá do escritório se ela é fiel à minha escrita. Senão, vai o computador janela fora. Antes ele do que eu, presumo.

E o mais serão batatas para cavar e comer. Com mais ou menos passarada a acompanhar. Dependendo das horas do dia... Antes a fome do que a dependência! Sobre todas as facilidades, a liberdade de nada necessitar...

(A mais legítima revolta. A única que aprendi em João Camossa. Aquela de que nunca abdicarei).

 

Fim de tarde no Chiado

João-Afonso Machado, 20.12.10

Até os lisboetas vivem o Natal no frio. Outro frio, menos frio, em que não há rabanadas e eles se contentam com fatias douradas... Enfim, excentricidades. Mas o Chiado, sim senhor!, é de se lhe tirar o chapéu. Gente interessante, gente exótica, grandes vultos da história. E a multidão, a chuva a crucificá-la, - será que a multidão repara nesses momentos de excepção?

Há nada, ainda, Dâmaso Salcede aflorava à porta da Havaneza. Pendurado num charuto óbvio, de chapéu alto, tons claros - nesta época, pobre imbecil - e um véu azul enlaçado, cadente... Sempre rubicundo, radioso, rotundo!

(Coitado, coitadinho, coitadíssimo!).

Não, a discrição de Fernando Pessoa é - acintosamente - mais convidativa. A incontornável comoção do seu perpétuo silêncio, da escrita torrencial, arcas e arcas de palavras suas, decerto ainda por virem à luz dos dias. Consta, porém, ele não enjeitar a companhia breve de um ou outro. Um café, uma bebida, dois ditos, talvez uma opinião...

- Boa tarde, Sr. Pessoa!...

Regela-se em Lisboa. Sente-se também a solidão, Ofélia não é presente

(Tenho estado muito triste, e além disso muito cansado - triste não só por te não poder ver... já não és a mesma que eras no escritório...),

o poeta sofre, tortura-se, rabisca cartas, Fernando Pessoa é ali, é o Chiado, Ofélia longe, esse o drama e a sua obra e o desfecho de uma existência, muito não alcança a nossa limitada compreensão...

- Foi um prazer, Sr. Pessoa!,

porque, manifestamente, a tarde polar não se proporciona, paciência, Pessoa é o Chiado e, creiamos, o sol voltará por um desses dias. E vê-se que escreve e lacrimeja - deixemo-lo assim.

-Psst! Jovem?!

- Sim, Sr. Pessoa?

- A Europa jaz, posta nos cotovelos; / De Oriente a Ocidente jaz, fitando, / E toldam-lhe românticos cabelos / Olhos gregos lembrando.

- Belíssimo, Sr. Pessoa...

- ... Fita, com olhar esfíngico e fatal, / O Ocidente, futuro do passado. / O rosto com que fita é Portugal.

- Mil vezes obrigado, Sr. Pessoa. Sim, juremos a nós próprios termos sempre Natal!

 

Presidenciais - os debates (IV)

João-Afonso Machado, 19.12.10

Nota de abertura: a candidatura de Manuel Alegre é, simultâneamente, necessária e desprezível.

Necessária, porque o vate constitui o mais conseguido exemplo do homo abrilinus republicanus, em tudo o que de mau e ridículo trouxe a Portugal. Desprezivel - tanto quanto o discurso e a praxis de um sempiterno deputado, um auto-exilado em Argel, alguém cuja outra qualquer ocupação profissional se desconhece, além do encosto político.

E isto é grave. É gravíssimo, quando Alegre começa a debitar boutades sobre a dureza da vida (que sempre lhe passou ao lado), ou a coscuvilhar o passado de quem - mau ou bom - foi comendo e alimentando os seus graças ao seu desempenho laboral.

Acresce o caricato do cenho franzido, o tom grave com que invoca a liberdade e a revolução

(- É preciso rrrresistir!...

repetiu ele ontem, três ou quatro vezes, no seu estilo de Che Guevara peralta), a querer deitar poeira sobre a sua atitude do mais puro estoicismo e epicurismo.

Neste contexto, revelou-nos algumas das suas maiores proezas e projectos: a autoria do preâmbulo constitucional (!!!) a sua putativa "voz activa" na Europa, entrando pelos gabinetes de Merckel e Sarkozy, qual Zé do Telhado, de exigências em punho; o contributo do PREC para o desenvolvimento das democracias grega e espanhola...

 

Já sobre Francisco Lopes. É uma candidatura tradicional: Octávio Pato, Ângelo Veloso, Carlos Carvalhas... Umas ficam a meio, outras chegam às urnas. Assim se cumprem os encargos de um funcionário do PCP. Abnegadamente. Aproveitando estes tempos de antena para zurzir na Direita e nos seus políticos.

Justa e éticamente o que não seria de esperar de Alegre. Que reincide, porém, nesse tipo de utilização dos debates com outrém. Com os adversários que não teme e a quem não passa cartão. Merecedores apenas da dita testa franzida e da bonomia de uma pretensa - e imensa - superioridade intelectual.

 

Em suma, caindo no absurdo, muito mais rápidamente votaria em Lopes do que em Alegre. Este último provoca em mim uma estranha vontade de ir para os autocarros gamar carteiras. Porque, apesar de tudo, me parece uma atitude mais linear. Menos hipócrita.

 

Presidenciais - os debates (III)

João-Afonso Machado, 18.12.10

- Não se vai para a Presidência da República com um ramo de flores!,

foi, a páginas tantas, a exclamação de Fernando Nobre. Estava-se no capítulo das palavras fáceis e Cavaco Silva, acerca da aprovação do Orçamento, não se inibiu de dizer - tinhamos a cabeça muito perto da parede e corriamos o risco de uma forte pancada...

(Assim tão perto da parede, a pancada nunca podia ser violenta, conforme as leis da Física...).

Portanto, já por aqui se vislumbra o elevado nível do debate.

Acresce que, na berlinda, se destacou o inefável Orçamento. Matéria a escapar ás competências do Presidente e sobre a qual Cavaco, no decurso das derradeiras semanas sempre tem evitado falar francamente.

Donde, algumas inevitáveis ilacções. A saber: nenhum candidato organizou ideias concretas e interessantes para Portugal, no âmbito das funções presidenciais. O que é tão mais grave, do lado de Fernando Nobre, quanto é certo que a sua militância na AMI podia - e devia - suscitar-lhe iniciativas inéditas na área da solidariedade para com os seus concidadãos; aliás: foi imiscuir-se no campo do normativo constitucional onde, seguramente, Cavaco manobra mais à vontade. Depois, e decorrentemente, - o maior mal do actual P.R. é ser uma cagarola, repetidamente escondido atrás de qualquer fatia de bolo-rei, a impedi-lo de falar para além das migalhas aspergidas boca fora. Por isso, em vez de tomar posições quanto ao futuro, justificou a sua timidez do presente e do passado.

E andámos nisto. Nisto e num discurso supérfluo e demagógico que impõe uma conclusão: portugueses - estes também não!