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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Presidenciais - os debates (IX)

João-Afonso Machado, 29.12.10

Safa!, pensei não acabassem... Mas foi agora o derradeiro suspiro da palhaçada. Protagonistas - os putativos pesos pesados nestas Presidenciais. Comecemos, então, pelo fim.

Tudo não andou além da paisagem. Ou de um jogo de xadrês, tosco e mal jogado. Em que Cavaco Silva cilindrou Manuel Alegre. Principiando logo - reconheça-se - num elegante ataque, friamente vingando todas as diatribes que o opositor lhe lançou durante os antecedentes debates com... os restantes candidatos.

Por três ou quatro vezes a pivot corrigiu os lapsu linguae de Alegre! Que colhia, atarantado, os frutos do seu veneno - porque acusou Cavaco de enganar os portugueses, a sua falta de sentido de Estado (figurou-se-me que o vate é ledor dos nossos Amigos do ES...), porque determinou Cavaco fosse a favor dos despedimentos sem justa causa, omitindo a pronúncia sobre medidas tomadas pelo Governo... do Partido apoiante dele mesmo Alegre, seu filiado!!! Porque, enfim, não se privou de lançar insinuações sobre a promiscuidade entre a política e os negocios, imiscuindo o rival nesse embróglio, esquecendo foram os socialistas a aprovar a nacionalização do BPN!

É gente assim que se candidata à mais alta magistratura nacional! Aliás, e por isso, há cem anos in sede vacante.

Cavaco foi mais elegante e não se revelou gágá. Conseguiu manter a boa-educação e a coerência. Ainda teve tempo para umas breves lições de constitucionalismo a Alegre. Sobre este, acrescentar-se-á somente, até no minuto final foi feio e demagógico - um auto-proclamado presidente de todos os portugueses apelando ao voto do povo de esquerda!

Vale o exposto como uma adesão a Cavaco? Mil vezes - não! O recandidato tem defeitos, medos, prudências, habilidades graves, vindas de trás, nada indicando as modifique. Fez o mais fácil - bateu num ceguinho. O seu segundo mandato é certo, como certo é o seu confronto, pós eleição, com o Governo que tentará derrubar.

 

Por tudo, e sem diplomacias - Viva a Monarquia!, Viva Portugal!

(Aí vai mais um voto em branco).

 

 

"Conta-me como foi"...

João-Afonso Machado, 29.12.10

Em 1970, muitos partiram, passando fronteiras no breu da noite e no aperto de um coração que não ignorava a fria eficiência das carabinas dos guardas. Iam assim, a monte (como então se dizia), rapazes novos ainda, em busca de um longínquo 2011 da sua velhice, calma, desafogada, aquecida à lareira de qualquer comérciozinho na terra que lhes foi berço e os viu dizer adeus - até ao meu regresso...

Em 1970, muitos partiram para uma vida de cão, em casotas chamadas bidonvilles, na inabalável convicção de que regressariam para um 2011 de bem-aventurança, entre filhos, netos, familia e amigos.

Em 1970, os que partiram, não sendo mal-sucedidos, sempre arranjavam posses e vagar para uma breve escapadela, uns dias com os seus, talvez não mais do que os da viagem, num comboio ronceiro, a chocalhar o seu equilíbrio em cima de tanta tralha (mas como não trazer uma lembrança para a mulher e o miúdo?, como não regressar com uma desproporcionada provisão de presunto e o garrafão, desde a infância os seus camaradas?).

Em 1970 era assim, porque 2011 chegaria um dia. Se não já na sua existência, pelo menos na maturidade dos filhos. A poupá-los a tanta carestia de tantas décadas.

Mas em 1970, se fosse possivel visionar o 2011 que está aí à porta, decerto o emigrante teria emigrado. Só que - definitivamente. Com direito a nova nacionalidade e tudo. Chamando de lá a família inteira. Para França, para a Alemanha, para o Luxemburgo, para a Bélgica, para a Grã-Bretanha. Para o fim do mundo. Nunca concebendo, nos seus planos, o regresso a uma pátria que o maltratou, lhe cobiçou as divisas - as célebres divisas! - remetidas, e agora nos oferece desemprego e privações em troca de ... confiança.