Grande susto para Cavaco Silva! Em despreocupado passeio no debate público, seguindo o conselho do seu médico de família - uma voltinha após o jantar, para fazer a digestão - eis senão quando Defensor o ataca nas canelas. Sem razões para tal, sem motivos quaisquer, Cavaco sequer o acirrara. Mas não é que antigas questões bancárias, investimentos pessoais, sofisticações financeiras, se vêem, repentinamente, abocanhadas e arrastadas entre rosnadelas ameaçadoras?
Cavaco reagiu com calma, sempre deixando bem clara a sua indignação. Defendeu-se escorreitamente e, sem perder a compostura, foi pondo Defensor no lugar que lhe compete. Que afinal é nenhum!
Bem podia o distinto vianense fazer da sua campanha um manifesto entusiasmado pró-regionalização. Promovendo, por exemplo, o ressurgimento das nossas provincias de sempre, do Minho ao Algarve, tendo por fronteiras o que as diferencia geográficamente, em vez da régua e do esquadro, lapizando no mapa os caprichos dos poderes administrativos.
Assim, escangalhou-se todo. Porque se há algo a que Cavaco é imune são as negociatas. Numa certa e curiosa semelhança com Salazar, que todos sabemos ter morrido pobre, embora sempre contemporizador com os grandes magnatas. Com os grupos económicos, na terminologia da era cavaquista. Austeros em casa, discretos na rua e liberais quanto às vidinhas dos que os rodeiam. Por trás de homens destes, nunca falta uma Maria...
Em suma, outro debate a nada mais levando além do reforço da incontornável ideia - preciso é mudar o regime.