Presidenciais - os debates (VI)
Foi um combate leal, há que reconhecê-lo. Disputado taco-a-taco. Com um final, adiante-se já, favorável ao espadachim menos gordo e mais novo. Como é natural.
Fernado Nobre esgrimiu como lhe era mais fácil. Desde sempre afastado das lides partidárias, invocou as falências, a pobreza e a fome, o desemprego, a ausência de perspectivas para a juventude, e foi feliz nessa primeira estocada - imputou responsabilidades a toda a clique do Poder político.
A estocada acertou em cheio no alvo.
Manuel Alegre deu a cara. Assumiu as suas responsabilidades, enquanto deputado, homem do aparelho estatal. E não escondeu o seu orgulho por isso. Num hábil golpe de mão, ripostou advertindo sobre o "dever pedagógico e democrático do cuidado com o discurso"... Vale dizer: doeu, mas aguentou.
Logo após, viu-se aflito ante o epíteto, lançado pelo antagonista, de "político profissional". Manteve o sangue-frio, porém. E suportou outros ataques, serenamente, - desde logo a constatação de que "perigosa é a situação social a que chegámos". Sempre sem dar parte de fraco. E ripostando com as ameaças pendentes sobre o SNS. Insuflações de galo, é claro, a que o adversário, muito tranquilo, ripostou apenas - "não vá por aí".
Nesta aflição, pela primeira vez, Alegre náo dispôs de espaço para atacar ao lado, visando Cavaco.
Ao terminar do duelo, o Épico esqueceu a temática do Estado Social e tentou agarrar-se à História e à Cultura, missões presidenciais.
Em arremetida contundente, Nobre, ainda poupadíssimo dos pulmões, e puxando pelas suas medalhas (ou pela sua "experiência de vida"), auto-proclamou-se um árbrito isento e livre e invectivou o eleitorado a não se acomodar, a ousar mudar. Fulminando Alegre com um derradeiro - "Vocês são livres!".
Pois creio que somos. Está tudo em aberto. Alegre caiu com elegância, não se diga o contrário. Mas não chega. Ou melhor: a manter este regime inimigo de Portugal, Nobre hoje marcou pontos. Só isso.