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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Presidenciais - os debates (VI)

João-Afonso Machado, 22.12.10

Foi um combate leal, há que reconhecê-lo. Disputado taco-a-taco. Com um final, adiante-se já, favorável ao espadachim menos gordo e mais novo. Como é natural.

Fernado Nobre esgrimiu como lhe era mais fácil. Desde sempre afastado das lides partidárias, invocou as falências, a pobreza e a fome, o desemprego, a ausência de perspectivas para a juventude, e foi feliz nessa primeira estocada - imputou responsabilidades a toda a clique do Poder político.

A estocada acertou em cheio no alvo.

Manuel Alegre deu a cara. Assumiu as suas responsabilidades, enquanto deputado, homem do aparelho estatal. E não escondeu o seu orgulho por isso. Num hábil golpe de mão, ripostou advertindo sobre o "dever pedagógico e democrático do cuidado com o discurso"... Vale dizer: doeu, mas aguentou.

Logo após, viu-se aflito ante o epíteto, lançado pelo antagonista, de "político profissional". Manteve o sangue-frio, porém. E suportou outros ataques, serenamente, - desde logo a constatação de que "perigosa é a situação social a que chegámos". Sempre sem dar parte de fraco. E ripostando com as ameaças pendentes sobre o SNS. Insuflações de galo, é claro, a que o adversário, muito tranquilo, ripostou apenas - "não vá por aí".

Nesta aflição, pela primeira vez, Alegre náo dispôs de espaço para atacar ao lado, visando Cavaco.

Ao terminar do duelo, o Épico esqueceu a temática do Estado Social e tentou agarrar-se à História e à Cultura, missões presidenciais.

Em arremetida contundente, Nobre, ainda poupadíssimo dos pulmões, e puxando pelas suas medalhas (ou pela sua "experiência de vida"), auto-proclamou-se um árbrito isento e livre e invectivou o eleitorado a não se acomodar, a ousar mudar. Fulminando Alegre com um derradeiro - "Vocês são livres!".

Pois creio que somos. Está tudo em aberto. Alegre caiu com elegância, não se diga o contrário. Mas não chega. Ou melhor: a manter este regime inimigo de Portugal, Nobre hoje marcou pontos. Só isso.

 

 

 

Gente realmente importante

João-Afonso Machado, 22.12.10

Têm cara e não têm subterfúgios. Nem medo. São como são e assim se apresentam. Há muito procurava uma oportunidade de fotografar o Manuel do Laço, o mais furioso boavisteiro da galáxia e arredores.

Foi hoje. Infelizmente, na triste data das exéquias de Pôncio Monteiro, outra personalidade de peso na cidade (duriense de Covelinhas, Régua, um dia desceu o rio e deixou-se estar pelo Porto... e pela TV, onde o seu humor, o seu bairrismo, faziam razias, enquanto granjeavam o respeito dos seus opositores: Dias Ferreira não faltou à derradeira homenagem; e, da capital, outros mais, decerto).

Também Manuel do Laço compareceu. Esquecido da arqui-rivalidade entre os dois grandes clubes, o FCP e o Boavista.

Pedi-lhe autorização para o retrato. Era para que jornal?, inquiriu, já muito lidado com estas abordagens. Não, era para um blogue; para a Internet. Pois claro, estivesse à vontade; e ensaiou a pose.

No pino do calor, na mais cortante invernia, Manuel do Laço não tira o laço alvi-negro. Como os seus sapatos de sempre, o côco, o colete, um axadrezado inteiro, da cabeça aos pés.

Há nele agora, talvez, uma expressão triste, espelho do seu Boavista, campeão nacional presentemente vítima do infortúnio. Nada que faça perigar a sua fidelidade. A sua verticalidade. Está ali para lutar pelo que acredita e gosta, pela sua dama de sempre. Manuel do Laço não é um mandador de bocas, nem um treinador de bancada. É um militante do que a sua alma guarda.

Pertence à cidade. Despede-se de um estranho com um caloroso desejo de boas-festas...