O dia menor
Julgo que é amanhã. Um dia minorca, muito menor do que o poder das máquinas sobre nós. Subjugados à porcaria dos computadores, essa rasteira, essa traição, esse canto de sereia, uma facilidade imensa e encravada. O mesmo grito de raiva e rebelião engrossa o protesto contra os afins. Máquinas fotográficas, imagens e toda a nomenclatura que me tira o sossego e me afasta da Paz: links, posts, tags, feeds, um estrangulamento de anglicismos (anglicismos? - quem dera: inglês imposto, sim!) e palavras de que a alma não é feita, e eu estou farto. Amanhã o sol acorda tarde e deita-se cedo. O sol sabe muito mais, mesmo dando de barato não necessitar de emprego. Mas a escravidão - nunca, em caso algum. Sobretudo quando o negreiro é uma máquina, ou são os seus caprichos.
Volto ao tempo da tinta permanente. Depois de amanhã, os dias crescerão em luz. Hei-de perguntar à secretária lá do escritório se ela é fiel à minha escrita. Senão, vai o computador janela fora. Antes ele do que eu, presumo.
E o mais serão batatas para cavar e comer. Com mais ou menos passarada a acompanhar. Dependendo das horas do dia... Antes a fome do que a dependência! Sobre todas as facilidades, a liberdade de nada necessitar...
(A mais legítima revolta. A única que aprendi em João Camossa. Aquela de que nunca abdicarei).