Presidenciais - os debates (IV)
Nota de abertura: a candidatura de Manuel Alegre é, simultâneamente, necessária e desprezível.
Necessária, porque o vate constitui o mais conseguido exemplo do homo abrilinus republicanus, em tudo o que de mau e ridículo trouxe a Portugal. Desprezivel - tanto quanto o discurso e a praxis de um sempiterno deputado, um auto-exilado em Argel, alguém cuja outra qualquer ocupação profissional se desconhece, além do encosto político.
E isto é grave. É gravíssimo, quando Alegre começa a debitar boutades sobre a dureza da vida (que sempre lhe passou ao lado), ou a coscuvilhar o passado de quem - mau ou bom - foi comendo e alimentando os seus graças ao seu desempenho laboral.
Acresce o caricato do cenho franzido, o tom grave com que invoca a liberdade e a revolução
(- É preciso rrrresistir!...
repetiu ele ontem, três ou quatro vezes, no seu estilo de Che Guevara peralta), a querer deitar poeira sobre a sua atitude do mais puro estoicismo e epicurismo.
Neste contexto, revelou-nos algumas das suas maiores proezas e projectos: a autoria do preâmbulo constitucional (!!!) a sua putativa "voz activa" na Europa, entrando pelos gabinetes de Merckel e Sarkozy, qual Zé do Telhado, de exigências em punho; o contributo do PREC para o desenvolvimento das democracias grega e espanhola...
Já sobre Francisco Lopes. É uma candidatura tradicional: Octávio Pato, Ângelo Veloso, Carlos Carvalhas... Umas ficam a meio, outras chegam às urnas. Assim se cumprem os encargos de um funcionário do PCP. Abnegadamente. Aproveitando estes tempos de antena para zurzir na Direita e nos seus políticos.
Justa e éticamente o que não seria de esperar de Alegre. Que reincide, porém, nesse tipo de utilização dos debates com outrém. Com os adversários que não teme e a quem não passa cartão. Merecedores apenas da dita testa franzida e da bonomia de uma pretensa - e imensa - superioridade intelectual.
Em suma, caindo no absurdo, muito mais rápidamente votaria em Lopes do que em Alegre. Este último provoca em mim uma estranha vontade de ir para os autocarros gamar carteiras. Porque, apesar de tudo, me parece uma atitude mais linear. Menos hipócrita.