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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Presidenciais - os debates (III)

João-Afonso Machado, 18.12.10

- Não se vai para a Presidência da República com um ramo de flores!,

foi, a páginas tantas, a exclamação de Fernando Nobre. Estava-se no capítulo das palavras fáceis e Cavaco Silva, acerca da aprovação do Orçamento, não se inibiu de dizer - tinhamos a cabeça muito perto da parede e corriamos o risco de uma forte pancada...

(Assim tão perto da parede, a pancada nunca podia ser violenta, conforme as leis da Física...).

Portanto, já por aqui se vislumbra o elevado nível do debate.

Acresce que, na berlinda, se destacou o inefável Orçamento. Matéria a escapar ás competências do Presidente e sobre a qual Cavaco, no decurso das derradeiras semanas sempre tem evitado falar francamente.

Donde, algumas inevitáveis ilacções. A saber: nenhum candidato organizou ideias concretas e interessantes para Portugal, no âmbito das funções presidenciais. O que é tão mais grave, do lado de Fernando Nobre, quanto é certo que a sua militância na AMI podia - e devia - suscitar-lhe iniciativas inéditas na área da solidariedade para com os seus concidadãos; aliás: foi imiscuir-se no campo do normativo constitucional onde, seguramente, Cavaco manobra mais à vontade. Depois, e decorrentemente, - o maior mal do actual P.R. é ser uma cagarola, repetidamente escondido atrás de qualquer fatia de bolo-rei, a impedi-lo de falar para além das migalhas aspergidas boca fora. Por isso, em vez de tomar posições quanto ao futuro, justificou a sua timidez do presente e do passado.

E andámos nisto. Nisto e num discurso supérfluo e demagógico que impõe uma conclusão: portugueses - estes também não!

 

 

Num futuro breve

João-Afonso Machado, 18.12.10

« (...). Mas estamos ainda no capítulo da historieta medonha. A Fernanda, um filho e um companheiro que não a quis e a deixou; e, mais recentemente, um assento de secretária, o seu ganha-pão, a sopa do menino, tudo sumido pelo raio das falências. Carlos é um hino à Solidariedade, a encarnação da Revolta.

- Malandros! Vigaristas!

E propõe-se esfolar quem a Fernanda achasse por bem à justiça e apaziguação que lhe são devidas. Ela redargue com proposições de bom-senso, os tribunais tomaram conta do assunto, o busílis está em que os tribunais são um caracol que se baba devagarinho, pegajosamente, sem sair do sítio. Tem estilo a Fernanda! E se...

- É da Monarquia, de um Rei que ame o seu povo, que todos precisamos!

O Carlos abocanha a ideia. A Fernanda não oculta a sua curiosidade pela bizarria da ideia. Um rei! Isso ainda há?

De uma silhueta de um guerrilheiro dos trópicos foge um sorriso luminoso, transfigurante. Lança a perna a um dos bancos do jardim e chama-a a si, irresistível como um messias.

- Onde estiver o Rei há o carinho e a dedicação que a ninguém é escusado.

O Rei, a Casa Real. Uma Família que é de todos, que a todos se dá e que sustém o farto conjunto de famílias que dá corpo à Nação».

 

(Foi Quase, DG Edições, 2006)