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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

O "Arranha-Céus"

João-Afonso Machado, 16.12.10

Em pleno consulado salazarista, a verdade é que o Porto crescia. Estou em crer, por efeito do empreendedorismo das gentes da cá, mais do que por amabilidade do Poder político. A Praça de D. João I é um caso exemplar, em plena Baixa.

Veio a cavalaria, perpetuando-se em bronze, vis-a-vis, logo impelindo a população, sempre jocosa, a rebaptizá-la "Praça de Entre-Cús"; veio o visionário ímpar que foi Artur Cupertino de Miranda, trazendo o Palácio Atlântico, vale dizer, a sede do seu BPA. Isto em 1951.

Mas já antes, desde 1945, a Praça tinha o seu especial motivo de orgulho - esse alentado prédio, uma colmeia de serviços - companhias de seguros, escritórios diversos e, acima de tudo, consultórios - dos mais conceituados médicos da cidade.

Era um arrastar de grades a tarde inteira, os elevadores num subir e descer contínuo, sem descanso. Eram os mármores, os baixos-relevos, os azulejos nos corredores infindos, onde empregadas de bata branca, sizudas e entradotas na idade, tão dedicadas aos Srs. Drs., não deixavam as crianças andar de patins nem fazer corridas de carrinhos.

Das janelas cá para baixo se distraíam esses dolorosos momentos de espera. Os velhinhos autocarros de dois andares ali paravam. Os gigantescos placards do Rivoli anunciavam filmes fantásticos que iam somente na imaginação, para os menores de 12 anos... A não ser, talvez, nas férias do Natal, dependendo da pouca carga de disparates acumulada entretanto. Qualquer Walt Disney, por norma. E os eléctricos surgiam de todo o lado, para trás e para a frente, em Sá da Bandeira (enorme a necessidade de uns binóculos para devidamente tirar as medidas às montras dos Bazares Paris e Londres...), ao longo de Passos Manuel, rumo aos Aliados... Sempre tangando, como escrevia o tripeirissimo Rubem A.

A construção do prédio foi ideia de Maurício Carvalho de Macedo, um amarantino... E, uma vez concluida, ofereceu ao Porto o mais alto edifício de todo o Portugal - com os seus oito andares!

Cheios de jactância, os portuenses imediatamente o apelidaram com o nome ainda hoje mantido: o Arranha-Céus.

 

 

Presidenciais - os debates (I)

João-Afonso Machado, 16.12.10

Começaram, finalmente! Os jogos da competição que mais interessa aos portugueses - um inquilino para Belém, com renda paga por todos nós. Nesta primeira eliminatória, pontificaram os candidatos presumivelmente das divisões mais baixas. Com escassa assistência no pelado. Mesmo assim, aqui fica o relato.

Pobres que são, pobremente falaram. Para os pobres. Numa avançada mais elegante, Fernando Nobre quadrangulou o sistema "perverso, caduco, ultrapassado, retórico". Marcou um golo.

Francisco Lopes tentou o contra-ataque, valendo-se da estafada táctica da militância partidária contra a ditadura, desde as suas épocas sub-21. Não foi longe.

(Camarada: eu milito pela Monarquia desde os meus 15 anos. Contas por alto, temos ambos a mesma coroa de glória na luta anti-fascista. Nem isso, nem nada, me faria candidatar, no entanto, à mais alta magistratura da cisão nacional).

Na derradeira fase do prélio, foi a pressão sobre o tema da fome. Mais um tento de Nobre: de cabeça, rememorando os mais miseráveis casos que os seus sentidos presenciaram por esse mundo fora, onde Portugal, apesar de tudo, ainda passa despercebido.

No termo da disputa, algumas vaias de Lopes a reclamar, entoadamente, - "eu quero o meu minuto". Ganhou o período de descontos. A última palavra é sempre deles, sabemos nós.

Fernando Nobre, digo eu, ainda poderá constituir uma surpresa nesta Taça...

Ao que consta, os dois rivais confratenizaram depois, galhardamente, em lustrosa deslocação a Freamunde, embeiçados no famoso arroz de capão. Para esquecer privações e desilusões pretéritas.