A Mocidade
Passou-me ao lado, nos tempos estudantis, completamente, a Mocidade Portuguesa. Não sei porquê, visto parte do meu liceu remontar ainda ao pré-25 de Abril. Mas apenas enverguei bocados daquela farda castanha-verde justamente depois da Revolução - quando uns amigos descobriram um depósito deste material (preciosíssimo, então) e procederam às necessárias requisições, depois vendidas ao preço do ouro à rapaziada. Eramos do contra. Contra-revolucionários. Assumidamente reaccionários. Porque nada queriamos do cunhalista sol que ilumina o mundo e, muito menos, nos quebrassem os dentes, conforme a célebre ameaça do chefe comunista. Dirigida à Reacção. A nós, insisto, na pequena escala em que também contribuimos para firmar e afirmar a santa liberdade.
Se gostaria de me ter alistado na Mocidade? Não sei. Havia o lado aliciante do programa: a equitação, a carreira de tiro, o desporto, os acampamentos... E havia o outro lado, pouco coadunável com a minha pessoa: gosto tanto de ser comandado quanto de comandar - nada; assim como de fardamentas; berros aos meus ouvidos, jamais; horários, tão-pouco... E nunca - nunca mesmo - aceitaria ser doutrinado politicamente pela República.
De modo que fico sem saber qual a minha expressão no retrato: choramingante?, perfiladíssimo, aguardando a ordem de calar baionetas?, envergonhado?, contrariado?, expectante?, ensonado?
Provávelmente, ocorreria esta última hipótese. Como no caso do segundo patriota a contar da esquerda, da primera fila, lá em cima. Mortinho por que nos remetessem para o volteio...