O pato-bravo
Foi numa dessas piscinas aquecidas onde acabamos as tardes, tantas vezes, a descomprimir. Supostamente, gozando algum silêncio, ao menos. Eis senão quando o ouvimos grasnar, movendo-se em ciclónica velocidade:
- Atenção ! Aí vou eu!,
todo ele no ar, a quilha emproada, as asas em cruz, mesmo abaixo da placa proibitiva de mergulhos. Qual quê!
Submarinou até à extremidade oposta, um autêntico merganso. O bico de trombeteiro, os olhos de zarro. Tanino como uma marrequinha. Mas com prosápias de pato real. Logo se assenhoreou do território, nadando incansávelmente, cotovelada à esquerda, cotovelada à direita, imperial como um cisne.
Era um pato-bravo!
Segundo os entendidos, arribaram por cá talvez na célebre Década de 60. Toparam os pantanais da Brandoa, onde nidificaram. Com uma qualidade de construção capaz de envergonhar um cuco - e, qual cucos, foram-se alambazando com a paparoca supostamente destinada às espécies indígenas, menos melras. A sua expansão revelou-se fulgurante. Chegaram, viram e venceram. Daqui já ninguém os leva. Tal como os bicos-de-lacre - cujo exotismo, porém, nada incomoda e em cujos ninhos sequer reparamos.