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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Adeus 2010

João-Afonso Machado, 31.12.10

No derradeiro dia do ano, como não sentirmos o poder do tempo, esse - invocando Ary - cavalo à solta pelas margens do nosso corpo?. Como não nos intimidarmos com a extraordinária velocidade de ponta do terceiro milénio, percorrendo em dez segundos a sua primeira década?

O tempo voa, sempre ouvi dizer aos mais velhos. Não exageremos. O tempo, simplesmente, há muito deixou de velejar ou mesmo de maquinetar no rio com um motor fora de borda. Hoje o tempo transborda de potência, consome-a em permanente aceleração, enebria-se em frente ao espelho. E não pára, já sem tempo senão para navegar na costa, em breves minutos de recreio.

Causa-me mal-estar o discurso apocalíptico. Resignadamente, admito o fim da epopeia e somente aspiro ao meu mundo, ao recanto do meu sangue, onde gostaria que a familia ainda seja - seja sempre - calor.

Porque, sou ciente, o tempo esqueceu a gesta... Todos nós também, possivelmente. Valerá a pena redescobri-la, além da sofisticação, um pouco à direita depois da modernidade?

Magnífico jantar o de ontem, entre Amigos que do mesmo modo se interrogam, no términus desta estonteante década de dez segundos. Em Lisboa, na capital do Reino.

Enfim, não entrarei em 2011 sem experimentar o cabrito para que convidou um Amigo e Colega de Faculdade. Há 30 anos que não nos encontramos. Perdão: há meio minuto, mais coisa, menos coisa.

 

Um bom Ano Novo para todos! Para Portugal também.

 

Presidenciais - os debates (IX)

João-Afonso Machado, 29.12.10

Safa!, pensei não acabassem... Mas foi agora o derradeiro suspiro da palhaçada. Protagonistas - os putativos pesos pesados nestas Presidenciais. Comecemos, então, pelo fim.

Tudo não andou além da paisagem. Ou de um jogo de xadrês, tosco e mal jogado. Em que Cavaco Silva cilindrou Manuel Alegre. Principiando logo - reconheça-se - num elegante ataque, friamente vingando todas as diatribes que o opositor lhe lançou durante os antecedentes debates com... os restantes candidatos.

Por três ou quatro vezes a pivot corrigiu os lapsu linguae de Alegre! Que colhia, atarantado, os frutos do seu veneno - porque acusou Cavaco de enganar os portugueses, a sua falta de sentido de Estado (figurou-se-me que o vate é ledor dos nossos Amigos do ES...), porque determinou Cavaco fosse a favor dos despedimentos sem justa causa, omitindo a pronúncia sobre medidas tomadas pelo Governo... do Partido apoiante dele mesmo Alegre, seu filiado!!! Porque, enfim, não se privou de lançar insinuações sobre a promiscuidade entre a política e os negocios, imiscuindo o rival nesse embróglio, esquecendo foram os socialistas a aprovar a nacionalização do BPN!

É gente assim que se candidata à mais alta magistratura nacional! Aliás, e por isso, há cem anos in sede vacante.

Cavaco foi mais elegante e não se revelou gágá. Conseguiu manter a boa-educação e a coerência. Ainda teve tempo para umas breves lições de constitucionalismo a Alegre. Sobre este, acrescentar-se-á somente, até no minuto final foi feio e demagógico - um auto-proclamado presidente de todos os portugueses apelando ao voto do povo de esquerda!

Vale o exposto como uma adesão a Cavaco? Mil vezes - não! O recandidato tem defeitos, medos, prudências, habilidades graves, vindas de trás, nada indicando as modifique. Fez o mais fácil - bateu num ceguinho. O seu segundo mandato é certo, como certo é o seu confronto, pós eleição, com o Governo que tentará derrubar.

 

Por tudo, e sem diplomacias - Viva a Monarquia!, Viva Portugal!

(Aí vai mais um voto em branco).

 

 

"Conta-me como foi"...

João-Afonso Machado, 29.12.10

Em 1970, muitos partiram, passando fronteiras no breu da noite e no aperto de um coração que não ignorava a fria eficiência das carabinas dos guardas. Iam assim, a monte (como então se dizia), rapazes novos ainda, em busca de um longínquo 2011 da sua velhice, calma, desafogada, aquecida à lareira de qualquer comérciozinho na terra que lhes foi berço e os viu dizer adeus - até ao meu regresso...

Em 1970, muitos partiram para uma vida de cão, em casotas chamadas bidonvilles, na inabalável convicção de que regressariam para um 2011 de bem-aventurança, entre filhos, netos, familia e amigos.

Em 1970, os que partiram, não sendo mal-sucedidos, sempre arranjavam posses e vagar para uma breve escapadela, uns dias com os seus, talvez não mais do que os da viagem, num comboio ronceiro, a chocalhar o seu equilíbrio em cima de tanta tralha (mas como não trazer uma lembrança para a mulher e o miúdo?, como não regressar com uma desproporcionada provisão de presunto e o garrafão, desde a infância os seus camaradas?).

Em 1970 era assim, porque 2011 chegaria um dia. Se não já na sua existência, pelo menos na maturidade dos filhos. A poupá-los a tanta carestia de tantas décadas.

Mas em 1970, se fosse possivel visionar o 2011 que está aí à porta, decerto o emigrante teria emigrado. Só que - definitivamente. Com direito a nova nacionalidade e tudo. Chamando de lá a família inteira. Para França, para a Alemanha, para o Luxemburgo, para a Bélgica, para a Grã-Bretanha. Para o fim do mundo. Nunca concebendo, nos seus planos, o regresso a uma pátria que o maltratou, lhe cobiçou as divisas - as célebres divisas! - remetidas, e agora nos oferece desemprego e privações em troca de ... confiança.

 

Fidelidade, sempre!

João-Afonso Machado, 28.12.10

 

Nada interessa, quando desta vida alguém parte, referir as suas opções políticas. Vale, sim, a sua conduta, as suas atitudes. Acima de tudo, a sua fidelidade e a sua coerência.

O Maestro Manuel Ivo Cruz foi ontem a sepultar, conforme a Imprensa amplamente noticiou. E na biografia, necessáriamente traçada ad hoc, deste Homem da Música e do Pensamento, vá lá saber-se porquê, escapou sempre a sua inalterável convicção monárquica, jamais escondida.

Encontrei-o a última vez em Guimarães, no passado 5 de Outubro, entre os milhares de portugueses presentes, dizendo sim a Portugal e não à República.

Facto sonegado, todos notarão...

Mas as imagens não perdoam. Quer nas cerimónias fúnebres, quer a caminho do cemitério da Lapa, onde foi dada sepultura aos seu restos mortais, a bandeira nacional acompanhou-o sempre.

Manuel Ivo Cruz partiu para a Eternidade no ano maldito do centenário, prenúncio de um Portugal - do seu Portugal - no limiar de algo que, se não for melhor, será péssimo.

A minha homenagem, Maestro! Viva Portugal!

 

Presidenciais - os debates (VIII)

João-Afonso Machado, 28.12.10

Interessantíssimo este monólogo de Fernando Moura, Nobre Defensor (da Pátria, evidentemente). Médico de carreira, político ocasional. Sem ataques nem intrigas, lançando cortesias aos colegas de profissão, entre complexas medições de graus de cidadania e intervenção social. É candidato à Presidência da nossa estimada República.

Nessa qualidade, manifesta o seu desagrado ante a aprovação do mais polémico OE de sempre. Antevê-se disputando a 2ª volta eleitoral com o mega-favorito Cavaco Silva, uma vez cativado - como não duvida - o eleitorado do centro-esquerda. Nem o contrário poderia resultar de uma vida inteira dedicada a mitigar as dores dos pobres, dos idosos e de toda a infelicidade e pequenez que grassam pelo mundo e pela sua autarquia.

A humildade impede-o, no entanto, de se pronunciar sobre todas as obras de caridade, acerca das quais acaba de se pronunciar. Enumerando-as e identificando-as, uma a uma. A intromissão do FMI na sua República doméstica seria uma fatalidade, mas nada de imputável ao Presidente, ou seja, a si mesmo. De quem, acrescenta, só poderemos esperar uma nobre política. E um pacto contra a resignação.

É mandatária desta candidatura a famosa voz italiana Mina Mazini - parole, parole, parole.

 

A banha-da-cobra

João-Afonso Machado, 27.12.10

Recordo com saudade as feiras do tempo da agricultura e das sempre bem-vindas mentiras dos vendedores da banha-da-cobra. Depois dos produtos hortícolas e gado vacum, nada como um desses oradores de outrora, roufenho e repetitivo, sempre com uma pomadinha miraculosa que a tudo acudia: às dores dos calos, à taquicardia, aos entupimentos intestinais.

A gente ria e incentivava o discurso, até porque só caía no logro quem queria. Mas a ASAE chegou às feiras, prendeu esses habilidosos e ficou-lhes com a mercadoria. Enquanto tal, ganhava alento um mercado amplíssimo, apelidado aparelho de Estado, onde a aquisição é obrigatória, e a mistela vai à força, goelas abaixo, mesmo para os mais renitentes.

A derradeira demonstração ocorreu anteontem - ainda por cima no dia de Natal! - e versando umas drageias cor-de-rosa chamadas "confiança". Aliás, já no ano transacto, por esta maré, o povo tinha ensurdecido com o berreiro de mais do mesmo - confiança, marca registada.

E a confiança servia para tudo: garantia os empregos, sustinha o custo de vida, travava os impostos, criava postos de trabalho... Enfim, ingeríssemos confiança e a economia nacional funcionaria como um realejo. Sem ameaça de qualquer colapso.

Não falemos de coisas tristes, como as que se perspectivam para 2011. Acreditemos. Sempre com o frasquinho de confiança no bolso. A qualquer altura do dia, à mais ligeira indisposição... uma confiança e dois goles de água.

Ninguém mais do que o próprio vendedor (quem não o conhece?, sempre de fatinho azul e camisa branca, narigudo, agrisalhando a cada nova intrujice...) acredita na confiança para fazer crescer as exportações ou para financiar a nossa economia e credibilizar o Estado português.

Provávelmente já experimentou a confiança. E confiou - num mandato governamental renovado. Isto é: a confiança tem efeitos colaterais - provoca alucinações.

 

Gente realmente importante

João-Afonso Machado, 26.12.10

JOAQUINA.jpg

Quando o rio não prenuncia desgraças, a Ribeira é irrefreável de movimento e cor. Ali encontramos a Joaquina Lopes, com o à-vontade do peixe na água e os seus cantares do dia inteiro. Mais o assador de castanhas, não chovendo. Define-se: fadista, pintora, poetisa, militante do voluntariado social e... castanheira! Nas horas vagas da meteorologia favorável, decerto...

Nada e criada na Ribeira, daqui não arreda pé. Faz parte da alegria local e das fotos dos turistas. Também se passeia pela Net - tem um blogue dela! - e insistentemente me perguntou quando apareceria no Corta Fitas. Ainda hoje, prometi-lhe, logo mais à noitinha.

Sim, nunca muito cedo, que as castanhas estavam a sair bem; nem excessivamente perto do momento do fado e da poesia. E entoou umas estrofes catitas, a modos de quem não esqueceu a proximidade das janeiras.

Oxalá, por isso, estas palavras surjam no tempo apropriado. Um feliz 2011 para si, Joaquina!

 

Imigrantes

João-Afonso Machado, 26.12.10

Fizeram-se à estrada já muito depois da queda do Muro de Berlim. Aliás, oriundos de paragens menos remotas. Entraram pela Galiza e povoaram o Norte e o Centro, eventualmente a paisagem transtagana também.

Foram recebidos na maior alegria. Um esquilo-vermelho enriquece o nosso mundo do dia-a-dia. Da varanda, vejo-os, tardes inteiras, a trepar e a descer a nogueira grande, em estonteante velocidade, parecendo colados ao tronco. Como se lagartixas nas pedras ao sol.

Mas este apanhei-o assim, numa manhã gélida, muito chegado à casa, quase desafiando as garras do gato. Seria fome? Não há para comer nas árvores, não...

Talvez viesse na mira de algumas migalhas de bolo-rei. Ou melhor dos pinhões, dos pedaços de amêndoas e nozes, que a miudagem sempre deixa na borda do prato. Com grande desgosto meu, nem deixou me aproximasse. Além do bolo-rei, ainda partilharia com o esquilo uma pratada de mexidos...

 

Um Santo Natal para todos

João-Afonso Machado, 24.12.10

Esta é uma noite vivida em Família. Não quero, por isso, antes que ela principie, deixar de desejar aos restantes colaboradores do Corta Fitas, aos seus comentadores e leitores - a todos, em geral - um Santo Natal, um inesquecível momento de Paz.

De Paz e em paz connosco mesmo. Porque só haverá Paz no Mundo quando os nossos espíritos encontrarem a paz que merecem e precisam.

O melhor Natal para todos!

 

 

Mimetismos

João-Afonso Machado, 24.12.10

Guia-as a fome. Mas é o gelido sabor da geada que as suas bocas encontrarão, como se a Natureza, sádicamente, confundisse a sequência das estações e o que mais se espera, em cada uma. São oito da manhã e o rebanho dilui-se na aqui chamada neve. (A que desce do céu tem outro nome: foleca). O sol ainda não reuniu forças para subir acima do arvoredo, nem o termómetro para ultrapassar os 0ºC.

As mãos doem, assim que se escapam dos bolsos. O dia bate os dentes e não articula palavra. Além das cabras e dos chapins, no topo dos ramos despidos, mais ninguém encara o frio. Entrámos no Inverno. Por coincidência na época do lar mais aquecido do mundo: o Presépio!

 

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