Amanhã é a greve
Tem a Imprensa, nos últimos dias, repescado imagens de 1982 e 1988, em que se verificou, possivelmente, a maior agitação grevista da III República. É uma viagem no tempo, a recordação desses momentos e desses cenários. A cidade de então, os seus automóveis, a vestimenta das pessoas... a farda da PSP, agentes pesadões, cinzentos, com botões dourados e sapatos de atacadores, autênticos músicos de filarmónica. Parecendo atarantados em tudo quanto não fosse aplicar uma multa por estacionamento indevido. Salvo, é claro, quando trocavam a chapeleta de general pelo capacete de viseira. Então, já se sabia, era a doer.
Hoje não é assim. Vêm de blusão, transpirando operacionalidade, na pose de qualquer jogador de basebol. Se calhar acabam, até, por resolver os conflitos de modo mais eficaz e pacífico... Enfim, todas estas constatações para referir apenas que, tal como nas outras greves ditas gerais, creio amanhã não se escapará à violência.
E vale a pena? Faz sentido a greve? O que pretende ela expressar ou traduzir?
Se é o descontentamento popular, o incómodo é em vão. Se é uma demissão, face à emergência de levantar o País... pois bem - adie-se a greve uma semana. Nova data - 1 de Dezembro. Pelo seu simbolismo, obviamente. Porque, na realidade, em que mãos estaremos melhor? Nas dos castelhanos ou nas dos FMIneses?
Ninguém ficará a ganhar com a greve, cujo preço para a nossa economia é da ordem dos muitos milhões. Nem o Governo perderá. Apenas Portugal descerá, ainda mais, na confiança dos mercados financeiros. Será só essa, a repercussão do facto político.