Entre a revolta dos elementos
As tempestades humanas são incomparávelmente mais inestéticas do que as naturais. Não há vozes nem gestos mais expressivos do que os das águas e dos ventos. O belo, realmente, só tem de feio o mal causado aos homens. Porque vasto bem lhes proporciona, no agitar dos oceânos, no uivar das tempestades, ou nos choques de luzes que relampejam, rasgam, os céus.
E não há conturbação que não afecte o mundo animal. Onde os dramas, quem garantirá não possuam alma também?
Reina a ebulição entre o liquido e o gasoso. A andorinha-do-mar, desorientada, assustou-se. Pela penugem, percebe-se ser um juvenil. Está sozinho, poucos são os da sua espécie expostos à observação. Sorrateiramente, aproximo-me, à cata da fotografia. De olhar posto nas ondas, o frio levanta-lhe as penas, faltam-lhe as forças. Nem se preocupa comigo. Hesita. Vai lançar-se à ventania, ou não? Está em terra como um náufrago. Como todos os que não estão no seu elemento natural.
O ar corta-lhe a respiração. Confunde-a. Nasceu entre a brisa, conhece agora algo parecido com o ciclone. Mede as suas próprias forças. Há muito mar, até poder descansar outra vez. Estou a vê-la - respirou fundo e piou: seja o que Deus quiser! Lançou-se no espaço.
Um minuto das nossas vidas - da minha e da dela. Alguma vez tornaremos a encontrar-nos?