Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Entre a revolta dos elementos

João-Afonso Machado, 23.11.10

As tempestades humanas são incomparávelmente mais inestéticas do que as naturais. Não há vozes nem gestos mais expressivos do que os das águas e dos ventos. O belo, realmente, só tem de feio o mal causado aos homens. Porque vasto bem lhes proporciona, no agitar dos oceânos, no uivar das tempestades, ou nos choques de luzes que relampejam, rasgam, os céus.

E não há conturbação que não afecte o mundo animal. Onde os dramas, quem garantirá não possuam alma também?

Reina a ebulição entre o liquido e o gasoso. A andorinha-do-mar, desorientada, assustou-se. Pela penugem, percebe-se ser um juvenil. Está sozinho, poucos são os da sua espécie expostos à observação. Sorrateiramente, aproximo-me, à cata da fotografia. De olhar posto nas ondas, o frio levanta-lhe as penas, faltam-lhe as forças. Nem se preocupa comigo. Hesita. Vai lançar-se à ventania, ou não? Está em terra como um náufrago. Como todos os que não estão no seu elemento natural.

O ar corta-lhe a respiração. Confunde-a. Nasceu entre a brisa, conhece agora algo parecido com o ciclone. Mede as suas próprias forças. Há muito mar, até poder descansar outra vez. Estou a vê-la - respirou fundo e piou: seja o que Deus quiser! Lançou-se no espaço.

Um minuto das nossas vidas - da minha e da dela. Alguma vez tornaremos a encontrar-nos?

 

Amanhã é a greve

João-Afonso Machado, 23.11.10

Tem a Imprensa, nos últimos dias, repescado imagens de 1982 e 1988, em que se verificou, possivelmente, a maior agitação grevista da III República. É uma viagem no tempo, a recordação desses momentos e desses cenários. A cidade de então, os seus automóveis, a vestimenta das pessoas... a farda da PSP, agentes pesadões, cinzentos, com botões dourados e sapatos de atacadores, autênticos músicos de filarmónica. Parecendo atarantados em tudo quanto não fosse aplicar uma multa por estacionamento indevido. Salvo, é claro, quando trocavam a chapeleta de general pelo capacete de viseira. Então, já se sabia, era a doer.

Hoje não é assim. Vêm de blusão, transpirando operacionalidade, na pose de qualquer jogador de basebol. Se calhar acabam, até, por resolver os conflitos de modo mais eficaz e pacífico... Enfim, todas estas constatações para referir apenas que, tal como nas outras greves ditas gerais, creio amanhã não se escapará à violência.

E vale a pena? Faz sentido a greve? O que pretende ela expressar ou traduzir?

Se é o descontentamento popular, o incómodo é em vão. Se é uma demissão, face à emergência de levantar o País... pois bem - adie-se a greve uma semana. Nova data - 1 de Dezembro. Pelo seu simbolismo, obviamente. Porque, na realidade, em que mãos estaremos melhor? Nas dos castelhanos ou nas dos FMIneses?

Ninguém ficará a ganhar com a greve, cujo preço para a nossa economia é da ordem dos muitos milhões. Nem o Governo perderá. Apenas Portugal descerá, ainda mais, na confiança dos mercados financeiros. Será só essa, a repercussão do facto político.