Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Político sofre...

João-Afonso Machado, 17.11.10

A cena decorreu à minha frente, real, verdadeiríssima. Num desses meus atarantados passeios ao Chiado, quando admirava um Fernando de Pessoa de bronze, sentado à mesa, também bronzea, no seu ar de eternidade e arte. De olhos postos em... Francisco Louçã, acabado de chegar, espreitando uma mesa vaga. Era sábado, dia de visita às livrarias, pensei logo. E de facto: assim se acomodou, Louçã deitou a mão a um livro, tirado de um saco de plástico, e pediu uma bica. O que será uma bica?, interroguei-me, enquanto o famoso político se deliciava já com as primeiras páginas - o prefácio, certamente - da sua aquisição.

Lastimei-o, sinceramente. Em menos de um fósforo, uma senhora de meia idade, envolta em requintadíssimos perfumes e roupagens condizentes, abordava-o sugantemente:

- Desculpe o atrevimento, Dr. Louçã! Não se lembra de mim?

Manifestamente não, não se lembrava. Muito menos da sua invocada qualidade de amiga da Joana.

- Da Joana Amaral Dias!...

Louçã sorriu. E, manipulando o livro, insinuava a sua vontade de sossego. Era sábado, que diabo! Debalde...

- Não há palavras! Com esta crise e o Pinócrates a passar férias num resort no Algarve! Olhe, eu contentei-me com Vilamoura, neste perído horrivel...

Louçã era todo esgares. Um político, mesmo da extrema-esquerda, não fala tão alto numa esplanada, ou então usa o megafone, enquanto distribui aventais.

- E depois tem a lata de dizer que não estamos em crise! A mim, que tive de ir para Vilamoura!... E ele a desperdiçar as economias!

- Minha Senhora! Creio estar enganada. Não nos conhecemos, até porque as minhas férias passo-as nos Açores. Quanto à Dra. Joana Amaral Dias...

- Uma querida, a Joana. Mande-lhe beijinhos, tá bem? E quando estiver com o nosso 1º, diga-lhe que se cure da sua socratinice aguda...

- Minha Senhora!...

- Adeusinho, adorei vê-lo. Dê cá uma beijoca... Francisco!

O empregado chegou finalmente. A madame intimidou-se e debandou.

- Por onde andou você? Foi ao México? Não sabe o que lá fizeram ao camarada Trotsky? Tenha paciência: traga-me antes um chá de camomila...