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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Estranho, muito estranho

João-Afonso Machado, 12.11.10

A rua alvoreceu hoje com macabros cartazes espalhados pelas suas paredes. Memórias, saudosismo, medo, ameaça, prenúncio? É caso para ficar a pensar...

Aparentemente, o desenho e o texto reportam-se à célebre façanha do (hoje ignoto) Capitão Fernandes, nem mais do que o desvio de umas centenas de G-3's. Como sabem, uma arma de ir aos pardais... e aos bancos, às gasolineiras, enfim, onde houver grão e colheita facilitada. As G-3's são esses brinquedos com que o traquinas do Otelo Saraiva de Carvalho se imortalizaria, garantindo que a remessa, assim obtida pelo subalterno Fernandes, se encontrava em boas mãos. Dormissem os portugueses descansados, é como quem diz.

Bom, aconteceu, entretanto, de tudo um pouco. Desde se provar que a Otelo competia, afinal, a autoria moral de uma série de homicídios - quiçá perpretados com as tais G-3's - ate à ruina a que o Governo socialista conduziu Portugal, todos os dias de ouvido colado à telefonia para saber dos juros da dívida pública. Mais o desemprego, os preços dos produtos alimentares a trepar, a insegurança instalada, a invasão do FMI, etc, etc.

Será brincadeira? Será de propósito? Para rir? Para atemorizar? Que me ocorra, as G-3's nunca foram restituídas. Porque Fernandes e Otelo se esqueceram onde as enterraram?

Talvez seja prudente andarmos atentos. E o SIS, com os seus "esses" todos, oxalá se revele mais capaz do que o socrático-socialismo.

 

Uma referência já

João-Afonso Machado, 12.11.10

Um domingo de manhã, pardacento, retintamente tripeiro, sem trânsito de automóveis, skates ou pessoas, a realçar a imponência destas formas estranhíssimas da Casa da Música.

É claro, ficaram as saudades dos eléctricos. Na derradeira fase, o 3 para Pereiró, o 18 para a Foz e o 19 para Matosinhos. Os últimos a largar o trabalho, já de madrugada, e, de madrugada ainda, os primeiros a retomá-lo. Isto no tempo em que os taxis não eram para a bolsa de todos, e a noite tinha muito para contar. Porque era ali a remise, negra, oleosa, de goelas abertas e um ruído de oficina permanente, vindo dos seus abismos.

Chegou um dia o camartelo. Quando já se falava no Porto - Capital Europeia da Cultura e em Ren Koolhaas, o extraordinário arquitecto holandês. Arribado a Portugal com estes desenhos, autênticos quebra-cabeças para os engenheiros nacionais. Quase foi necessário ressuscitar Afonso Domingues e Manuel da Maia... A obra derrapou, derrapou, tornou a derrapar. Não sei quantas vezes. E durante um valente par de anos, os moradores das redondezas fartaram-se de comer pó e de percorrer caminhos inauditos, de carro ou a pé, contornando a edificação.

Por fim, ao preço de uns tantos Estádios do Dragão, levantou-se o véu e o Porto e o mundo deslumbraram-se com estas linhas ímpares, com a novidade e o atrevimento implantados na mais central zona da cidade. Mais do que com o seu excelso som interior, diga-se também. Mas, feio ou bonito, creio até, a ninguém ocorreu discutir. Simplesmente inédito, monumental, muito nosso. Outra noção de espaço, misteriosa parceria estabelecida com os jardins da Rotunda da Boavista.

E nem o mais fiel adepto do barroco, ou afins, soltou um ai. A Casa da Música está já no galarim da Torre dos Clérigos. São às centenas, diáriamente, os forasteiros em seu redor, de máquina fotográfica em punho.