A cadeia falimentar
Cá para cima, as falências são um sucesso, a total erradicação da obesidade. Já não há, a norte do Douro, nem colesterol, nem empresas. Práticamente. Obra e graça dessa miraculosa mezinha, actualmente denominada - a insolvência. Um genérico. Mais barato, mas de idênticos efeitos laboratoriais. Abençoado Progresso! Abençoado Estado Social!
O princípio quimico para obstar à elevada taxa de acidentes cardio-vasculares é simples e assenta na despropositada realidade de o operário casar, e constituir família, com a operária que trabalhava no mesmo turno, anos a fio. Colocados ambos no desemprego, como permanecerão alimentando-se de carne, manteiga e outras gorduras? Privações, continência no prato, eis o que preconizou o Regime. E, num ápice, os gordos transfiguraram-se em esqueléticos, já sem forças nem bolsa para, sequer, levar os filhos à escola.
O caso do dia é o da Maconde, Mac-Moda, etc. e tal, em derivações designativas de uma mesma agonia prolongada. Sejam bem-vindos, todos os trabalhadores resistentes, ao metafísico mundo das privações materiais.
Se bem me entenderam, falo a sério. Acabaram os rojões, o sarrabulho, a tainada. Esses deploráveis vícios minhotos. Toca a comer arroz com arroz. Confúcio dixit.
Uns pormenores, apenas: é de temer, a mudança seja demasiado brusca; a ociosidade provoca o cancro, já os anarquistas preconizavam; e o nosso povo, infelizmente, talvez não consiga interpretar estas pedagogicas medidas, tão a propósito implementadas no centenário da República. Daí à revolta contra este benfazejo Estado pode ser apenas um - injustíssimo... - passo.