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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

A Nazaré

João-Afonso Machado, 10.11.10

Foi notícia nos telejornais de ontem. Parece que o mar se enfureceu e as ondas vieram até cá acima, a rondar de perto o casario da marginal. Os nazarenos - com razão, reconheça-se - não apreciaram grandemente a partida. Diz quem sabe, esse marítimo momento de mau humor terá ficado a dever-se a uma fossa abissal que ruma ao centro do planeta umas tantas milhas ao largo. A maior do Atlântico! Nove quilómetros de profundidade, ainda não totalmente explorados. No ano transacto andou por lá um navio inglês, devidamente equipado, e os seus cientistas mergulharam - em aparelho próprio, claro - até dois terços do percurso. Enquanto tal, a gente vai dando umas braçadas à superfície e com bóia, pelo sim, pelo não.

Mas a Nazaré - ou melhor, a praia agora assim chamada, antes a Pederneira, concelho dos antigos Coutos de Alcobaça - a Nazaré, repito, está-me no coração. A Nazaré, o Sítio, bem no topo, o forte de S. Miguel, Nossa Senhora, sempre acompanhando a minha família... Porque eramos de ali, até que as contigências da Guerra Civil aconselharam a migração para a Bairrada.

Uma história umbricada, um livro a contá-la, todas as sardinhadas da vida que ainda me resta, sempres que por ali passo. Mesmo no Verão, altura em que a romaria é excessiva. Mas não há como evitar:

- Tio, vamos ao sacrifício?

O meu Tio mais velho, honrado membro da Real Confraria de Nossa Senhora da Nazaré, nem pestaneja.

- É já amanhã!

E nesse dia vagam dois lugares na praia, em S. Martinho. Que isto de congestões não é brincadeira, não...

Para remate da expedição, os vagares de uma deambulação pela ora apagada Pederneira. De cujo miradouro saiu esta fotografia. Como se viajássemos no tempo até ao século XIX, entre as sombras do velha sede da edilidade, do pelourinho, da Igreja de N. S. das Areias, de becos e becos de paz e sossego.

 

Elegância e silêncio

João-Afonso Machado, 10.11.10

Chegou com o tempo a arrefecer. E antes do Verão não partirá. Mas, dama de hábitos requintados, esta garça real não se fixou, como seria de prever, nas alagadas várzeas minhotas, ou mesmo junto de qualquer curso de água. Dotada de rara visão e de um espírito prático, moderno, a garça conjugou os seus exigentes gostos com as vantagens do conforto - e deixou-se estar pelo Palácio de Cristal. Com o supermercado mesmo à porta.

Ou melhor, a lota do peixe. Desses vermelhos, cheios de pasmaceira, que se topam mesmo no mais fundo do lago esverdeado. Ei-la, à espera de ser atendida. Depois é só avançar, o bico em riste, e o salmão está grelhado. Cozido.

No Palácio de Cristal a garça não me faz concorrência. E não há quem não goste da sua companhia. Discreta, comedida, esbelta e vestida com bom-gosto, como convém a qualquer senhora. Olhem só aquele corpo, pouco falta para o desfile na passerelle...

(Será que, perguntando-lhe pelo futuro, ela nos responde sonhar com a carreira de advogada, jornalista ou psicóloga?...).

Mas soube familiarizar-se com os patos e os gansos do lago do Palácio. E com os pavões, com uns poucos coelhos que por ali se escondem nas moitas. E aceitou a presença humana, facto extraordinário. Talvez explicável pela sua perceptivel vaidade. Elegante, silenciosa, mas muito poseur. Há tantas máquinas fotográfica por ali...