A Nazaré
Foi notícia nos telejornais de ontem. Parece que o mar se enfureceu e as ondas vieram até cá acima, a rondar de perto o casario da marginal. Os nazarenos - com razão, reconheça-se - não apreciaram grandemente a partida. Diz quem sabe, esse marítimo momento de mau humor terá ficado a dever-se a uma fossa abissal que ruma ao centro do planeta umas tantas milhas ao largo. A maior do Atlântico! Nove quilómetros de profundidade, ainda não totalmente explorados. No ano transacto andou por lá um navio inglês, devidamente equipado, e os seus cientistas mergulharam - em aparelho próprio, claro - até dois terços do percurso. Enquanto tal, a gente vai dando umas braçadas à superfície e com bóia, pelo sim, pelo não.
Mas a Nazaré - ou melhor, a praia agora assim chamada, antes a Pederneira, concelho dos antigos Coutos de Alcobaça - a Nazaré, repito, está-me no coração. A Nazaré, o Sítio, bem no topo, o forte de S. Miguel, Nossa Senhora, sempre acompanhando a minha família... Porque eramos de ali, até que as contigências da Guerra Civil aconselharam a migração para a Bairrada.
Uma história umbricada, um livro a contá-la, todas as sardinhadas da vida que ainda me resta, sempres que por ali passo. Mesmo no Verão, altura em que a romaria é excessiva. Mas não há como evitar:
- Tio, vamos ao sacrifício?
O meu Tio mais velho, honrado membro da Real Confraria de Nossa Senhora da Nazaré, nem pestaneja.
- É já amanhã!
E nesse dia vagam dois lugares na praia, em S. Martinho. Que isto de congestões não é brincadeira, não...
Para remate da expedição, os vagares de uma deambulação pela ora apagada Pederneira. De cujo miradouro saiu esta fotografia. Como se viajássemos no tempo até ao século XIX, entre as sombras do velha sede da edilidade, do pelourinho, da Igreja de N. S. das Areias, de becos e becos de paz e sossego.