Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Em cima do acontecimento

João-Afonso Machado, 06.11.10

Este é o momento em que o Onassis dos Orientes desembarcou nos Jerónimos para deixar duas lágrimas junto ao túmulo de Luis Vaz. Estão lá, também - não no dito túmulo - as entidades oficiais portuguesas e, deste lado, algumas dezenas de chineses que gritam guturalmente, não se sabe o quê. Como não ouvi palmas, uma de duas: ou a ovação não é tradição deles, ou a berraria era insultuosa e a nossa polícia não se apercebeu.

Entretanto, assistimos todos à detenção de um chinoca magrinho, cercado de cabeças rapadas e enfiado num automóvel negro que logo arrancou de sirene desenfreada. Era, constou, um apoiante do pérfido Chiang Kai-shek, ditador de Taiwan.

.

Já os garbosos cavaleiros galopam - não para defender a Pátria do imperialismo extremo-oriental, mas, justamente, para lhe dar as boas-vindas. Nesta tarde tão amena, detectam-se ainda, perfeitamente, diversas bandeiras das Repúblicas presentes e convidadas: a portuguesa a chinesa, as africanas (Togo, Camarões, Gana...). Cada qual a mais popular.

A tocante cerimónia deve estar prestes a findar. Seguir-se-à a apreciação da nossa mercadoria. Oxalá o poderoso Hu Jintao não dê o seu tempo por perdido.

 

 

E a bala na nuca: quem a pagará?

João-Afonso Machado, 06.11.10

Chega hoje a Lisboa, Sua Ex.cia o Presidente da República Popular da China, Hu Jintao. E, bem vistas as coisas, depois da recente visita de Hugo Chavez, porque não a deste democrata mais? Ao que parece, ainda por cima, trazendo os bolsos carregados de eulos para desenrascar as nossas economia e finanças.

Hu Jintao não descerá as escadas do avião envergando a fardamenta revolucionário-proletária do seu antecessor Mao. Mais depressa intentaria amaciar-nos o espírito com as sedas das cabaias dos mandarins. Mas o tempo urge, a hora é de negócios. O traje de executivo. O relógio dos aúlicos do pragmatismo. Apenas com um intervalozinho para a coroa de flores no túmulo de Camões. Não fica mal, esta homenagem aos costumes dos ocidentais.

E depois, toca a sentar à mesa dos números, para discutir a entrada no tecido empresarial português, conforme os eufemismos dos nossos governantes, que os jornais papagaiam.

Muito suncintamente: trata-se de comprar títulos da nossa dívida pública e de dar uma vista de olhos pelo que ainda seja recuperável neste jardim à beira-mar plantado. Hua Jintao ouviu muito falar do BCP e está intelessado também...

Talvez as fábricas de munições sejam relançadas. Talvez passemos a produzir as balas tão corrente e exemplarmente utilizadas na China contra criminosos, detractores ou gente que apenas se atreve a querer ser livre...

Mas podia ser pior. Felizmente temos cá a benfazeja República portuguesa. Ética, democrática, mãe devota dos Direitos Humanos. Ela zela por nós. As balas são só para os chineses e nós nada temos a ver com os Nóbeis deles - mesmo que da Paz e mesmo que encarcerados. O mais só seria grave se o regime não fosse republicano.