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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Nostalgia, tanto quanto...

João-Afonso Machado, 04.11.10

Aí vai um nortenho, A8 fora. Já passou Lisboa e arredores. Ao lado do volante, continua atento e sabe que chegou ao reino dos saloios. Onde esperaria encontrar burricos, roupa branca a lavar, sopés e urze trepando, porque não a Beatriz Costa? Um mundo campesino, vivendo de olhos postos na capital. Ruídos, cheiros e costumes de gorro negro enfiado na cabeça. Era, pensava, o que seria. Ou devia ser.

A auto-estrada é demasiadamente veloz. Talvez mais do que a realidade. Ou, quem sabe?, encobridora de um mundo que gostaríamos real. Está por apurar, esse papel, o da auto-estrada: lápis azul de quê? Da verdade ou do sonho?

Recordo os moínhos de vento desconhecidos na minha terra. Aquele gemer sem parança enquanto o ar não parasse. Deslumbramento meu, o da falta de água que move a vida de que vivem os meus. O ar? Aquelas pás e panos a rodopiar, mais depressa (dizia eu) contamos com os ribeiros do que com os assobios da atmosfera. Desgraçados saloios...

Na aceleração dos nossos dias, tudo é nada. Os moínhos cilíndricos morreram todos. A farinha também. Os burros multiplicaram-se, mas afastados desta região, e engravatados. Ficou o ar e o vento. E estas fantasmagorias, a captar energias alternativas. Podia ser de outro modo? Não, seguramente.

Somente, o que é, é. Feio ou bonito. Eficaz ou ineficaz. Aceitemos o meio termo - meio feio, meio eficaz.

 

A gaivota portuguesa

João-Afonso Machado, 04.11.10

Este patriota há já largas dezenas de anos deitou as mãos ao facalhão e à sua bainha. Trazidos de casa, onde sacrificava porcos, para nos defender da usurpação. O seu aspecto ameaçador, de quem não brinca mesmo, fixa com ganas de morte Junot, Soult, Massena, exércitos franceses estarrecedores, o Império de Napoleão. A seu lado, outro lusitano parece apertando mortalmente as goelas de mais um excomungado do Senhor.

E no topo do monumento, o leão inglês esmaga a águia gaulesa. (Só com o advento dos gloriosos anos do Dragão ficou arredada a ideia de que o escultor era soprtinguista, a ridicularizar o Benfica...).

Simbologias. A quantos dias de marcha não estará a águia imperial germânica? Ou os hunos de Átila, os chineses da Dinastia maoísta-trezentista? E o que havemos nós para opor a tão sinistras ameaças?

Temo-nos a nós, claro. E temos - lá está ela! - a gaivota portuguesa. Legiões, legiões e legiões, qual Legião Condor. Eficientíssimos caça-bombardeiros, capazes dos mais melados embaraços nas casaquetas dos beligerantes.

A Base das Berlengas, por isso, entrou já em alerta. Amarelo ou encarnado? Não interessa: isso só prenuncia a proximidade do incêndio ou da inundação no ilhéu. Como é costume, a Protecção Civil não disporá de meios adequados para intervir. Resta-nos a opção de recurso: o pombo citadino. As avionetas de reconhecimento.