Nostalgia, tanto quanto...
Aí vai um nortenho, A8 fora. Já passou Lisboa e arredores. Ao lado do volante, continua atento e sabe que chegou ao reino dos saloios. Onde esperaria encontrar burricos, roupa branca a lavar, sopés e urze trepando, porque não a Beatriz Costa? Um mundo campesino, vivendo de olhos postos na capital. Ruídos, cheiros e costumes de gorro negro enfiado na cabeça. Era, pensava, o que seria. Ou devia ser.
A auto-estrada é demasiadamente veloz. Talvez mais do que a realidade. Ou, quem sabe?, encobridora de um mundo que gostaríamos real. Está por apurar, esse papel, o da auto-estrada: lápis azul de quê? Da verdade ou do sonho?
Recordo os moínhos de vento desconhecidos na minha terra. Aquele gemer sem parança enquanto o ar não parasse. Deslumbramento meu, o da falta de água que move a vida de que vivem os meus. O ar? Aquelas pás e panos a rodopiar, mais depressa (dizia eu) contamos com os ribeiros do que com os assobios da atmosfera. Desgraçados saloios...
Na aceleração dos nossos dias, tudo é nada. Os moínhos cilíndricos morreram todos. A farinha também. Os burros multiplicaram-se, mas afastados desta região, e engravatados. Ficou o ar e o vento. E estas fantasmagorias, a captar energias alternativas. Podia ser de outro modo? Não, seguramente.
Somente, o que é, é. Feio ou bonito. Eficaz ou ineficaz. Aceitemos o meio termo - meio feio, meio eficaz.