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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

A súmula

João-Afonso Machado, 07.09.10

É hoje!

Na Secretaria do "Campus", decerto antes ainda do almoço, será solenemente depositada a sentença do processo "Casa Pia". Em cerca de 2000 páginas, não é de estranhar encontrar-se a necessária subsunção dos factos ao Direito, assim se pondo cobro à novela "Cadê a fundamentação?".

Que ninguém desespere. Haverá mais. Esta - novela - longuísssima embora - foi apenas a primeira. As restantes - atafulhadas de capítulos - têm já cenários marcados: a Relação, o STJ, o Tribunal Constitucional...

Fica, de resto, o temor generalizado de que os actores atinjam a idade da reforma, antes mesmo de se saber se uns retoquezinhos a dar nesta primeira série, ora finda, não implicarão a sua reposição em cena. Que é, como quem diz, a babel de um novo julgamento. Quantos artistas do elenco resistirão, então, ao tempo inexorável?

São, por tudo, plenamente justificadas as palavras de Catalina Pestana: para os casapianos, o processo terminou no passado dia 3. (Oxalá os desgraçados não tenham de comparecer, novamente, pelas expostas razões, na sala de audiências...). O mais são recursos e as décadas que uns anseiam para regressarem ao anonimato possivel, e outros encalpelizam, tentando subir às estrelas onde já viveram sentados.

"Os Miseráveis", de Victor Hugo, têm muito volume, intensidade, sofrimento, mas um final feliz e comovente. Que os «miseráveis» da Casa Pia se alongam em muitas mais resmas de páginas, já sabemos. Sobre o sofrimento da parte mais fraca - nada há a acrescentar.

Mas quanto ao epílogo?

Em súmula, eis a questão.

 

 

Portugal gosta da visita real

João-Afonso Machado, 07.09.10

Os Príncipes do Luxemburgo chegaram hoje ao nosso país.

O que é o Luxemburgo, perguntarão (malandros), os rapazes da Esquerda?

É um Principado. Pequeno, mesmo muito pequeno. Mas rico, riquisssimo - adiante com as taxas da ordem, demográficas, económicas, financeiras, etc.

Pequeno, pequeno, ainda não lhe deu na cabeça pôr termo à emigração dos nossos. Relato um caso do meu conhecimento próximo: uma família minhota, confrontada com o parco emprego, fez malas e partiu. Levou consigo uma alma octogenária, querida da minha família: segundo eles, não tinham alternativa.

Falo - quanto à idosa - de uma pessoa analfabeta. Que vida a sua no Luxemburgo? Ao visitá-la este Verão, em férias cá na terra - percebi que menos má.

Portugal, lamentavelmente, não é assim. Depois de muitos abraços, acreditámos que, para o ano, nos reencontraríamos. Nós e a nossa octogenária. Queira Deus!

Enquanto isso, cá nos vamos parlamento-democratizando. Às bambochatas. Com muitos festejos farsolas e cumprimentos aos Príncipes do Luxenburgo, de permeio. A festejar a República, beijando a mão à Realeza europeia.

Se eu fosse político, rendia-me. Apostava em algo diferente desta República sorvedoura. A minha querida octogenária diz o mesmo.

 

 

"Projecto Moda"

João-Afonso Machado, 06.09.10

É o substituto dominical do televisionabilíssimo Prof. Marcelo. A equipa compõe-se de um juri, uma apresentadora em permanente voz de comando e um orientador técnico, de cabeça rapada e magricela, que bem poderia trocar as suas cordas vocais pelas daquela sua colega de programa.

As cobaias foram quatro jovens, e o tema a moda e o design. O conjunto das cobaias denomina-se designers. A capa de uma revista qualquer da especialidade aguarda a cobaia que, de entre as mais, se impuser pela força da sua criatividade.

Logo de início, os designers tomaram conhecimento do objectivo do dia: dois vestidos para duas senhoras que iam à festa, uma delas de esperanças já adiantadas.

E o drama tomou então, inesperadamente, formas desmedidas. Porque confeccionar roupa é, pelos vistos, um acto dolorosíssimo, um autêntico enigma existencial. Mãozinhas delicadas agarravam-se aos cabelos, comprimiam as meninges. Havia pranto e ranger de dentes. "Exótico", "sexy", "glamour" são ditos de dor muito deste inferno. Ah!, é verdade, parte dos designers são do sexo masculino, algo não detectável pela audição e que só uma visão mais atenta esclarece totalmente.

Vêm de toda a parte. Um deles, do Peso da Régua, o cabelo muito amarelo, o espírito todo a mexericar em jóias, a querer «entrar no imaginário dela», a senhora destinatária do vestido. «Cada vez dou mais de mim a cada projecto, são um bocado de mim», rematava, amaciando as sedas da farpela. Com a breca! - ocorreu-me - isto já chegou aos socalcos da Régua?

Abreviemos. O Manuel Serrão integrava o jurí, onde só ele falava grosso. «V. acha que a...» - já não lembro o nome - «vai gostar de vestir uma cortina cinzenta do pescoço aos pés?». E ao da Régua, que criara uma peça de arte curtissima nas pernas, para a quase-mamã: «com a barriga dela e esse vestido, se se senta vê-se-lhe o rabo. Já pensou nisso?».

Não tinha pensado. Também ninguém estava ali para pensar. Trata-se de umas merecidas férias para os que costumam seguir os comentários do Prof. Marcelo.

 

 

O Vale do Ave

João-Afonso Machado, 05.09.10

BOIS, CANGA.jpg 

Já foi o mais abastado pedaço da província minhota. Antes da era Porches/Ferraris. Ou a ilusão de riqueza que findou, deixando desemprego às toneladas e o entulho das fabriquetas a poluir a paisagem.

As gentes da terra perceberam agora o logro. Agora - quando a agricultura também já não vai lá das pernas e o excesso populacional, o desvario urbanistico, ainda mais trapalham a recuperação da economia regional.

Felizmente as autarquias - muito mais do que o Poder Central - lançaram mãos à obra. Os custos humanos são elevados mas afinal...os peixes voltaram aos cursos de água. Porque as tinturarias... foi como se a filoxera desse nelas. Acabaram todas ou quase todas. E onde há peixes e rios lavados, há pesca e desporto. Logo, turismo.

O Vale do Ave em particular e o Minho em geral têm de apostar em si mesmos. De recuperar a sua identidade. Ou as suas tradições e a sua História. Ainda ontem - e por toda esta semana - a Feira de Artesanato e Gastronomia de V. N. de Famalicão deu provas desse esforço de salvação. Estavam lá, para gáudio dos visitantes, a arte e gastronomia do concelho. Assim como de outros concelhos, mais e menos distantes, também.

Em não poucos stands, a manufactura decorria à vista dos interessados. Quantos não estarão ali, por sua conta e risco, lidando com o vidro, o fio, a talha em que ocuparam anos a trabalhar em empresas entretanto levadas pela falência?

É hora de arrumar a casa. De lhe disfarçar as cores e feitios inacreditáveis, de pôr termo à promiscuidade entre zonas habitacionais e (fantasmagóricos) parques industriais. Porque o Minho é uma boa aposta turística. Em V. N. de Famalicão há já quem mantenha os seus recantos rurais ocupados com ingleses, franceses, espanhois, suecos... famílias inteiras deles, por toda a Primavera e Verão.

 

 

Outra experiência, outra aposta

João-Afonso Machado, 03.09.10

Foi um convite tão inesperado quanto tentador, o desta manhã. Colaborar com o Corta-Fitas!

Relembrei os tempos já imprecisáveis da dactilografia, os tinteiros e as esferográficas que foram ficando pelo caminho até ao meu baptismo na blogosfera, acompanhando a Plataforma do Centenário da República. Um outro projecto, com outras características, mas igualmente interessante e, os dois, assinalando um ano cheio de novidades na minha vida de escrita.

Portugal vai sendo - para o bem ou para o mal - um País onde não rareiam os temas a debater. Só cá, para determinados acontecimentos, esses que enchem páginas de jornais e abrem triunfalmente os noticiários televisivos. A aposta está em captá-los e saber dar-lhes movimento em palavras, fazê-los andar bem despertos na imaginação do leitor e no seu sentido crítico.

Mas, por hoje, agradecerei somente as amáveis palavras do João Távora e a confiança demonstrada quanto à valia do meu contributo no quotidiano do Corta-Fitas.

Uma boa-noite para todos.

 

P.S. Soube-se hoje: é nortenho, e um promissor finalista de Direito, o relator do acordão final do STJ no processo "Casa Pia".

 

 

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