Memórias do Oeste
Conheci as Berlengas em 1978. O forte era, então, uma ruína e o faroleiro o senhor absoluto da água doce no ilhéu - severamente racionada, distribuida somente para beber e cozinhar.
Acampámos uma semana e - que remédio! - todos os dias mergulhávamos ensaboados. Como toda a gente. Repetidamente cacei coelhos à mão, mas havia sempre quem se compadecesse... e lá não variavamos nós das salsichas e daquele arroz acimentado, quase fatal.
Entre os casotos dos pescadores iluminava-se um café (ou algo vagamente semelhante) onde, na véspera do regresso, pedi uma coca-cola e perdi 40$00! Vim para o Norte à boleia, o dia inteiro com um pão recesso e uma caneca de leite tragados manhã cedo. A gaivota que eu apanhara nas falésias e trazia na mochila, para oferecer ao Pai, não resistiu - era já cadáver, a meio da viagem.
Correram mais de trinta anos e eu espreito esses tempos com saudade. Arriscamos, nos de agora, a não passsar menos privações. E tanto parece, às vezes, perder o sentido!
Enfim, vai dando para desfrutar uns ocasos magníficos, aqui, no Cabo Carvoeiro. E saborear um jantarinho como deve ser, no Nau dos Corvos, de costas voltadas à amaldiçoada coca-cola...
(O pargo estava excelentemente grelhado. Não achou, Filipa?).