Os tempos têm fim
Percebi o esforço, essa intenção de se irmanar aos botes, chamá-los pelos nomes. De viver os seus dias na baía, tratando-lhes das velas, a mão dada a namorar-lhes o leme. Era uma história de infância com o berço vagamente deslocado, o leite cedido pelo biberon de alguém mais compadecido. Porque nada acontecera, nem aconteceria depois. Fora apenas um momento de euforia, talvez um efeito do multicolorido dessas horas festivas.
Não tornaram os botes. Não tornaram, é claro, à conversa e à pretensa erudição das suas palavras, porque na realidade os botes estão lá, na constância dos seus navegantes.
Sempre foi assim. Aceitem-no os botes, aceitemo-lo todos. Os tempos têm fim, e o fim dos tempos é o apagar da memória. Quando se erguem já as chamas da desvergonha.