A moral dos cogumelos
São esses natais súbitos e nocturnos sobre um cepo qualquer. Surgem aos cachos, muitas vezes, ao longo das nossas deambulações florestais, nestes feudos da humidade. A gente gosta deles, tanto quanto os teme.
São muitas as formas e as cores. Há nos cogumelos uma beleza perigosa, semelhante à das serpentes tropicais, em que também dificilmente distinguimos as venenosas das inofensivas.
Mas se as cobras, quando calha, lá vão ferrando o calcanhar de um incauto qualquer, os cogumelos são mestres no desvastar de famílias inteiras. Nessa estranha atracção pelo desconhecido. Ou nessa vã convicção do segredo habilmente desvendado. Tanto matam como semeiam delícias em repastos de requinte.
Só com redobrados cuidados havemos de perturbar o seu lugar na Natureza. Na medida justa das necessidades e da sabedoria. Muito pragmaticamente, despojados de impulsos artísticos. No fundo, os cogumelos apelam à humildade, talvez de um modo brutal, ameaçando com a sua toxicidade. Mas o facto é que, além das toxinas, contém ensinamentos. Logo devem possuir uma moral.