Histórias da Carochinha
Pois nada sabia, Ritinha. Tenho andado meio arredado e só ontem me contaram foste às festas, onde deixaste, bem marcada, a tua justa reputação.
Então não é que decidiste recolher à pensão, altas horas, ao que dizem, tropeçando muito no subir das escadas? E atrás de ti, a amparar-te pelo rabo, um manganão, o teu João Ratão. Garantiu-me um hóspede, conhecido de longa data, essa noite não foi possível pregar olho, tal o alarido. Uma chiadeira, uns berros cortantes. E a empregada, ao passar no corredor, que te ouviu tossir, engasgada, quase sufocada! E o reboliço no quarto, o reboliço, horas a fio, meu Deus, em terra mais pacata!
Foi por isso que a D. Zulmira te informou muito seca, na manhã seguinte:
- Menina, não é permitido os hóspedes trazerem convidados para o quarto!,
com aquela sua voz afiada, a D. Zulmira que já na véspera de andara a cocar, forasteira, sempre desconfiada, a modos de quem investiga e se questiona:
- Quem será esta galdéria?,
como se lesse e adivinhasse nas tuas bochechas, Ritinha, essa tua sublime especialidade de mandar cartas anónimas e de fazer telefonemas a meio da noite, sempre escabrosos, sempre injuriosos, em papel manchado de vinho e voz empastelada. Como se já tivesse percebido tudo, a espertalhona da D. Zulmira.
Enfim, a seu tempo contarás como recuperaste as tuas botas altas que, na vergonha da debandada (o que o João Ratão se riu, Ritinha!), esqueceste na pensão.